Luanda - A pouco menos de um mês de deixar a Casa Branca, Joe Biden visita Angola. De 2 a 4 de dezembro, Biden visita Angola com uma agenda muito preenchida. Joe Biden deveria ter visitado Angola a 14 de outubro deste ano, mas não o pôde fazer porque teve de responder à emergência climática no seu país provocada pelo furacão Milton.

Fonte: Club-k.net

A presença dos países ocidentais em África é cada vez mais contestada pela opinião pública, sobretudo por aqueles que compreendem que os EUA e os seus aliados insistem em fazer negócios com governantes africanos corruptos e cleptocráticos. Líderes que mantêm os seus povos sob regimes fechados de autocracia e ditadura. Em agosto de 2022, Angola realizou eleições presidenciais, num processo em que a oposição e a sociedade civil, já cientes do historial de 50 anos de fraude eleitoral do partido no poder, realizaram um escrutínio paralelo. Neste escrutínio, os editais davam uma clara vantagem à oposição. O partido político MPLA, consciente da sua derrota e temendo uma revolta popular, colocou o exército na rua para reprimir as pessoas que queriam exigir justiça e verdade eleitoral. Os angolanos, sentindo-se sozinhos e intimidados, recorreram ingenuamente às contas de twitter de Joe Biden, agora X, pedindo a sua intervenção, ao verem a sua democracia ser sequestrada por mais um ano. O Biden e a sua administração ignoraram os gritos de ajuda da população angolana. Hoje o povo sabe porque.


Os negócios de Joe Biden com a ditadura angolana ascendem a 5 mil milhões de dólares. Na sua agenda, durante a visita a Angola, a sua prioridade é a conclusão do mega-projeto conhecido como Corredor do Lobito. Trata-se de um projeto que visa facilitar o saque e a extração desenfreada de coltan da RDC e de minerais da Zâmbia, passando por Angola, até ao porto do Lobito, e atravessando o Atlântico até aos EUA. Além disso, a equipa de Joe Biden acrescenta que tem outros temas em agenda para esta viagem, como as microgrids, a energia limpa, a transformação económica digital e a segurança alimentar.


Recorde-se que após os acordos de paz entre a UNITA e o MPLA assinados em Angola em abril de 2002, o governo do MPLA recorreu à China para financiar o seu projeto de reconstrução nacional após quase quatro décadas de guerra. E para o seu projecto ANGOSAT, que visava colocar em órbita o primeiro satélite de Angola, voltou-se para a Rússia. A visita do Presidente Biden a Angola pode ser vista como uma aproximação geo- estratégica ao continente africano, numa altura em que a Rússia e a China estão a ganhar terreno em várias regiões desta parte de África.

No entanto, em Angola, vários movimentos de ativistas aguardavam pelo J. Biden com protestos e palavras de ordem como: “Libertem os presos políticos”, “Temos fome”, “Não queremos ser imigrantes, queremos o nosso país livre e justo”, “Abaixo a ditadura”. O governo angolano, num esforço para mostrar normalidade e boa governação, está a tentar conter e encobrir quaisquer possíveis sinais de manifestações. Podemos ver como limpou as ruas, livrando-as das pessoas que por problemas de saúde mental costumam deambular diariamente por elas, mas também podemos ver como retirou os contentores de lixo onde famílias inteiras vêm diariamente buscar algo para comer; pintou as passadeiras, arranjou as fachadas dos prédios situados onde se prevê a passagem da comitiva presidencial americana e tanto é o seu afã de esconder e limpar, que também escondeu à população. O João Lourenço envergonha-se do seu povo. As visitas importantes não são dignas do povo sofredor, decretou três dias de tolerância de ponto para evitar que o povo se cruze com a comitiva yankee.


A população angolana queixa-se do projeto do Corredor do Lobito porque não vê qualquer benefício para o país. Lamenta que o atual governo, liderado pelo MPLA, esteja a vender o país e os seus recursos desta forma, em pleno século XXI, quando se trata de uma nação soberana e independente.


Depois do Presidente Obama, Joe Biden é o único presidente americano a visitar um país africano nas últimas décadas. Entende-se que a perda de hegemonia do Ocidente nos países africanos está a obrigar os EUA e a Europa a repensar as suas estratégias nestes países. Estes países possuem matérias-primas e recursos muito importantes para sustentar as indústrias ocidentais e chinesas. Por isso, a disputa por eles é fundamental na nova ordem mundial.


A soberania dos povos africanos fica completamente ameaçada quando um país estrangeiro decide instalar bases militares, controla o poder financeiro e utiliza mecanismos de extração de recursos naturais de forma ambientalmente irresponsável e sem escrúpulos, em troca de acordos que garantam a permanência no poder, de presidentes assassinos e incompetentes, que fazem com que os seus concidadãos sejam sufocados pela pobreza extrema, obrigados a migrar e a morrer todos os dias no Mar Mediterrâneo e em comboios da morte para a América do Norte, em busca de uma suposta felicidade que muitas vezes também não encontram no estrangeiro.


Angola tem vários jovens presos políticos. Jovens que, por dizerem ao Presidente que não está bom que o povo passe fome quando ele pagou 25 milhões de dólares a lobistas americanos para que Joe Biden o receba por 5 minutos na Casa Branca. Que não está certo que ele apanhe um avião privado para a sua filha dar à luz numa clínica em Washington. Que não está certo que comprem carros Lexus por 120 mil euros cada para os 220 deputados, e uma frota de carros presidenciais a preços astronómicos, quando não há medicamentos nos hospitais, nem cadeiras nas escolas; Que não está certo que paguem 320 milhões de euros para que a seleção Argentina jogue um amigável com a seleção angolana, enquanto o povo morre de fome e os jovens não têm emprego. A jovem influenciadora chamada Neth Nahara foi presa por ter denunciado violação e abuso de poder por parte de um alto funcionário do governo quando era menor de idade. Em Angola, as mulheres que se dirigem às esquadras da polícia para denunciar actos de violência machista são sexualmente agredidas por agentes da polícia na mesma esquadra com total impunidade. Todos os dias, em Angola, 14 mulheres morrem às mãos de homens. Até agora, este ano, foram assassinadas 3453 mulheres, de acordo com o Jornal de Angola. Os idosos angolanos vivem da caridade das igrejas e dos caixotes do lixo, enquanto os altos funcionários de um governo com slogans socialistas marxistas-leninistas circulam por Angola e pelo mundo em carros topo de gama e outras regalias.

O Presidente Biden decidiu encerrar o seu mandato presidencial fazendo negócios com o governo de um país cujas mãos estão manchadas com o sangue dos seus cidadãos.


As intervenções dos EUA e dos seus aliados nas últimas duas décadas em África foram desastrosas, a Líbia e os países do Sahel são exemplos gritantes.


A nova geração de africanos está atenta, consciente e não permitirá que os erros cometidos pelos seus antepassados continuem a ser-lhes imputados. A digitalização e as redes sociais estão a tornar-se meios alternativos de comunicação e denúncia em países onde os meios de comunicação públicos são sequestrados pelo Estado. Será, portanto, difícil continuar a enganar esta nova geração que está a tomar as rédeas do seu próprio destino. Não percam de vista os acontecimentos em Moçambique, o exemplo do Botswana e de outros países em África. É tempo de os países da União Europeia e os Estados Unidos definirem as suas posições e defenderem os valores em que dizem acreditar, como a democracia, os Direitos Humanos, a boa governação e as liberdades. Ou continuarem a apoiar e a perpetuar regimes corruptos, assassinos e manifestamente fraudulentos e em decadência nos países africanos, numa altura em que não há retorno para a restauração da soberania africana. Os fundos chineses e russos para Angola foram, na sua maioria, desviados para as contas bancárias de altos funcionários. Os fundos de Biden correm exatamente o mesmo risco. Um ladrão corrupto, será sempre um ladrão corrupto. Esperemos que estejamos enganados.