Luanda - O bipartidarismo em Angola! Um conceito tão realista quanto um unicórnio a trotar pela Marginal de Luanda. Imagine só: dois partidos a disputarem de igual para igual, a alternarem-se no poder como cavalheiros democráticos. Seria encantador, não fosse uma ficção digna de um romance político utópico.
Fonte: Club-k.net
No caso angolano, se aplicássemos a tipologia de Jean Blondel, o bipartidarismo perfeito seria um devaneio puro. Afinal, para tal ocorrer, precisaríamos de dois partidos que partilhassem quase equitativamente os votos, o que exigiria um eleitorado com plena liberdade de escolha e um sistema eleitoral sem… digamos, interferências.
Já o bipartidarismo imperfeito poderia até parecer mais próximo da realidade, considerando a existência de um partido que monopoliza o poder e outros que gravitam à sua volta, tentando captar uma fracção dos votos. Mas sejamos francos: enquanto o jogo político for um espectáculo de cartas marcadas, qualquer ilusão de alternância real não passará de um teatro bem encenado.
Talvez valha recordar a resposta de Fidel Castro quando lhe perguntaram sobre as eleições presidenciais nos EUA em 1960:
“Não é possível comparar dois sapatos usados pela mesma pessoa. A América é governada por apenas um partido, que é o Partido Sionista, e tem duas alas: A ala republicana representa o poder sionista linha-dura, e a ala democrata representa o poder sionista suave. Não há diferença nos objectivos e estratégias, mas os meios e ferramentas diferem ligeiramente para dar a cada presidente um tipo de privacidade e espaço para movimento.”
Se aplicarmos essa lógica à realidade angolana, a pergunta não deveria ser sobre a viabilidade do bipartidarismo, mas sim sobre quem, de facto, controla os cordelinhos do jogo político. Afinal, se as regras são escritas para garantir que o tabuleiro continue sempre inclinado para o mesmo lado, então tanto faz ter um ou dois partidos dominantes.
Portanto, se alguém espera um bipartidarismo funcional em Angola, talvez seja melhor também acreditar que o trânsito de Luanda um dia será fluido e que a burocracia estatal será célere. Afinal, sonhar não custa nada!
Por: Denilson Duro