Luanda - Achou que a sua terra me amedrontaria. Que aqueles prédios altivos e ruas bem encantadoras me fariam tremer. Mas esqueceu-se que sou mwangolê. Aqui, medo não se cria. Se pensou que eu estaria malaique, enganou-se. Quem tem o sangue de Ngola e Njinga Mbandi a correr nas veias não se acanha perante outras terras.
Fonte: Club-k.net
Se não entendeu, sou daquela banda onde se canta o “Angola Avante”, o hino mais poderoso que há. Escrito por um ou dois, mas na nossa banda, um nome basta. E quem cantou? Também não interessa. Se excluíram alguém, que assim seja. A história por aqui tem dessas coisas.
Sobre os prédios, expliquei bem explicado: também temos ruas bonitas. O problema? Passeio e asfalto são desperdício. Se só passa um carro por dia, para quê gastar kumbu em alcatrão? Massa mandamos guardar nos miúdos. Mesmo Sete bis eles sabem gerir. E se der bronca, quem lhe prende é nosso irmão. Tem bisno de combustível e anda solto, como sempre.
Aqui, você pode ser ministro hoje e amanhã, quando viaja, descobre que na terra alheia não te conhecem mais neste cargo. Mas isso não faz mal. Quando voltar, vira deputado e ganha dinheiro a adormecer num palácio de outro mundo. Se achar que kumbu é coxito, faz táxi. Afinal, o carro é do povo. E no táxi, leva-se o povo. O mesmo povo que te elegeu para resolver problemas que nunca resolves.
Na minha banda, a fome existe, sim, mas temos terra arável e mares cheios de produto. A sede também nos toca, mas rios temos a mais. Só que a água vai para a barragem. E a luz? Ah, essa é malandra. Gosta de ir embora sem avisar. Mas não é só isso. O gatuno não ajuda. Prefere levar os cabos eléctricos para vender lá fora e depois nos vendem de volta!
E quando se viaja para outras bandas, nem sempre é para luxo. Sou engenheiro na terra, mas lá fora posso lavar pratos. Pensas como? Achou que fugiria por ser black? Nunca na vida! E mesmo que fugisse, na minha banda, por gamares, param avião no ar. SIC e PGR sobem de escada no voo e te prendem na mesma. Melhor se entregar, porque os nossos magalas dão cool nos kuzus!
Queres ser famoso aqui? Fácil. Fala mal do boss e te prendem. Viras herói. Ou então, faz-te de maluca, depois te transformam em mamã serva. Até te tiram da cadeia e passas no telejornal como caso encerrado. Ou podes morrer. O mundo vai mostrar que te amou!
Xeeeee, esse wi achou que me apanharia a pata? Estava maluco. Eu sou da banda onde tem Malueka, Balumuka, Paraíso, Terra Vermelha, Embondeiro, Maye-Mayé, Fubu. Esse ngulo pensou que ele é qual, afinal? Sou da Mwangope, onde estrangeiro toma conta de quase todos os negócios. Nacional ou é professor, ou polícia, ou zungueiro, ou bêbado ou pastor. Até pastor tem de ser especial. Ou é da estranja, ou é mwangolê e aprende a ser estranja. Nem que seja só ao abrir a boca!
O dinheiro? Antes era capim, agora é vento. Ouvimos falar, mas quase não vemos!
Na minha banda, nasces numa província e depois te dizem que afinal é outra.
Aqui não há cão de merda. Cão tem nome de broda. E não se espante se ouvir que Aputarado não era só cão. Era gente também! Óbito do bicho arrastou mais gente que funeral do ex-Sua Excelência.
E os nossos bosses? Apaixonados pelo ar! Aqui, te dão do ar, e comes apenas ar. Mas quando vão na estranja, curtem bwê as bandas alheias. O problema é que nunca cabulam os bons mambos para a nguimbi.
A economia sobe? Sim. Mas emprego? Isso é anduta. O jovem é que gosta de desemprego.
Ou então, esse ngavivie achou que a terra dele é mais curtida?
No final de tudo, meu irmão, minha irmã, sou desta banda e amo minha terra. E se é como é, é minha. E depois?
E como dizemos por cá: “Filho de peixe sabe nadar, mas filho de Angola não troca a terra dele por nada.”