Luanda - Curvo-me perante a memória dos Generais acima referenciados, que pereceram em circunstâncias pouco habituais. Não foram mortos em combate no campo de honra, mas sim por caprichos humanos de um líder de uma organização que, infelizmente, selou o destino destes grandes filhos da pátria angolana e da negritude africana, que se batalharam com bravura pela democracia e pelo pluralismo.

Fonte: Club-k.net

Não os conheci todos, pois combatemos por Angola em trincheiras diferentes. No entanto, em 1991, o ponto de chegada desses grandes filhos de Angola foi a cidade do Huambo. Logo após os Acordos de Estoril e Bicesse, em Portugal, a 31 de Maio de 1991, chegou ao Huambo a primeira delegação do Comando do Estado-Maior General da FALA, chefiada pelo General Arlindo Isaac Chenda Pena, "Ben.Ben". Integravam esta delegação o General Isidro Peregrino Wambu Chindondo (Serviço de Inteligência Militar - SIM), Zacarias Mundombe, Renato Campos Mateus e outros membros da Presidência da UNITA. Não me alongarei para evitar omissões intelectuais.

Esta delegação serviu de grupo de avanço, preparando a vinda do Presidente Fundador da UNITA, Jonas Savimbi, ao Huambo, sendo este o ponto de entrada para o regresso da UNITA às cidades. Daí, seguiu-se para Huila, Lobito (Benguela) e, posteriormente, para Luanda, onde se instalou e reuniu com a CCPM, confirmando o seu empenho no processo de paz.

Contudo, os analistas de inteligência da época já colocavam em dúvida a seriedade do processo de paz, pois o Dr. Savimbi chegou ao Huambo camuflado com o uniforme verde-oliva, o "14 Janeiro", que o acompanhou durante os 16 anos de guerrilha. Concluiu-se que o processo de paz seria apenas uma trégua. Seguiram-se comportamentos como a militarização das cidades, bairros e ruas.

Foi nesse contexto que conheci estes grandes generais, a quem dedico este texto para homenagear as suas vidas e as suas obras no contexto da paz, do perdão e do abraço. Também sei que vários planos de assassinato foram feitos contra a minha figura, mas esses planos foram frustrados, ou melhor, Deus esteve comigo e me conduziu para a luz eterna.

Apesar da diferença abismal em termos de posto militar — eu era capitão das FAPLA, enquanto estes generais já ostentavam as quatro estrelas —, sempre me trataram com elegância e distinção. O General Arlindo Isaac Chenda Pena tratava-me sempre como "o director", dizendo: "Director, estás a correr muito; até com chuva deixas poeira nas ruas do Huambo." Outro sinal de que estava sob observação.

O General Antero, comandante das FALA em Benguela, viajava para o Huambo todos os finais de semana, numa viatura Passat branca. Era afável, respeitoso e bem falante. Foi responsável por cativar as jovens da JMPLA, passando a mensagem da democracia multipartidária e plural. Eram generais com compostura e, na verdade, foram bem recebidos na cidade, num ambiente de paz que se desejava duradouro, mas que, infelizmente, não se concretizou.

O General Tarzan, comandante das Forças de Reservas da UNITA, preparava a guerra pós-eleitoral. Estas forças não se apresentaram nos centros de aquartelamento para serem verificadas, desarmadas e desmobilizadas. O General Tarzan passava poucos dias no Huambo e depois regressava ao controlo das suas forças, sob a orientação de Jonas Savimbi, numa visão de que a cidade corrompe. Era um homem de porte físico invejável e uma verdadeira tropa no sentido mais puro da palavra.

As chamadas forças de reserva eram unidades semi-regular e regular que entrariam no campo de batalha assim que o processo de paz descarrilasse. Este projeto, muito bem articulado e de longo prazo, visava obstruir a paz e a reconciliação nacional em curso na época.

Quis o destino que este grupo de oficiais, na sua maioria, já não regressem à nova paz e à nova Angola pela qual se bateram. Foram traídos por aqueles que ajudaram a sua revolução, uma história triste que se assemelha à de Pol Pot, o porco que come os seus filhos.

O meu coração dói pela relação que havíamos construído durante o período de paz, mas ainda assim, a minha repulsa vai no sentido de que os funerais destes destemidos filhos da pátria não serão acompanhados pela actual Direcção da UNITA. Estes heróis deram tudo pelo partido, sendo alguém que chegou a chefiar a estrutura militar da UNITA, organizou a logística, preparou planos operacionais e esteve sempre na linha de frente. Perdeu um braço nos campos de treino e morreu fiel ao partido.

Foram humilhados na cruz, todos da mesma família, do mesmo sangue. Os que hoje dirigem o partido não se coíbem de se juntar às vítimas recentes e à dor dos filhos e das famílias, mas não se comovem com elas.

No nosso reencontro no aeroporto do Saurimo, em 1996, o General Bock, ao me ver, deu-me um grande abraço por ter sobrevivido à Guerra dos 57 dias do Huambo. Estava na comitiva do General Higino Carneiro (HC) e ele disse: "Transmita os cumprimentos ao General", omitindo a sua identidade, que nos acompanha com eterna saudade.

É responsabilidade do Governo, através do CIVICOP, garantir funerais dignos para os que partiram. No entanto, também é responsabilidade da UNITA participar na homenagem aos seus quadros, filhos de uma Angola unida e reconciliada. Apelo aos mais velhos, como Samuel Chiwale, Ernesto Mulato, Eugénio Ngolo Manuvakola, Apolo Felino Yakuvela, Wenda, Kananay, Artur dos Santos Vinama e outros, que são os verdadeiros conjurados da nova UNITA, os Generais do terreno, do sofrimento e da resistência contra as FAPLA. Em qualquer exército digno de registo, nenhum Brigadeiro se sobrepõe a um General.

Pela relação que estabeleci com esses homens, mesmo em tempos de guerra, mas com muita afabilidade, estarei presente nos funerais, quando forem anunciados oficialmente, e espero que seja em breve. É a nossa cultura tradicional acompanhar aqueles que partem e repousam nos braços eternos do Senhor. Estes são os nossos Lázaros, pois partiram antes de nós.

A minha homenagem aos Generais Bock, Antero Vieira, Tarzan, Peres e Assobio da Bala. Honra a vossa memória e paz às vossas almas.