Luanda - Ao pronunciamento da ministra angolana da educação, Dra. Luísa Grilo, segundo o qual <<os angolanos que emigram não fazem falta ao país >>, os segmentos da sociedade angolana reagiram com repulsa, entre os quais o Movimento dos Estudantes Angolanos, a Juventude de Renovação Social - braço juvenil do partido político PRS - e a famosa activista Luzia Moniz, só para citar estes. Entretanto, além de pessoas socialmente expostas, ouve-se também o repúdio de cidadãos comuns às palavras da governante, o que nos leva a acreditar que os angolanos não terão, de facto, gostado do se disse.
Fonte: Club-k.net
Ora, o que terá levado alguém com tamanha responsabilidade no governo a pronunciar-se naqueles moldes? Será que a senhora ministra da educação, Luísa Grilo, acredita profundamente que quem emigra não faz falta ao país ?
Hipótese A: Sim, a senhora ministra acredita mesmo que quem emigra não faz falta ao país;
Hipótese B: Não, a senhora ministra não acredita que quem emigra não faz falta ao país, apenas disse por estratégia política superior gizada, ancorado na trigésima-sexta das "48 Leis do Poder" do teórico americano Robert Greene (cfr. imagem à esquerda).
Olhando com olhos de ver, é-nos pouco crível que a hipótese A seja corroborada, na medida em que:
I. A SENHORA MINISTRA NÃO SE OPÔS À ACÇÃO DO CHEFE EXECUTIVO DE REUNIR OS ANGOLANOS RESIDENTES NA DIÁSPORA: Em abril de 2024, o Presidente da República, João Lourenço, realizou o Primeiro Encontro Nacional Com os Angolanos Residentes na Diáspora; segundo vozes ligadas ao poder, um dos objectivos do encontro era mostrar a “nova-Angola” e convencer esses angolanos a voltar para terra natal ou, no mínimo, alertá-los para não perderem nem o vínculo com a terra-mãe (Angola) nem os valores africanos, no cômputo geral. N’altura, a Senhora Ministra da Educação, Dra. Luísa Grilo, já era membro do executivo (já estava pertinho do Chefe do Estado), mas não o alertou, ou seja, não sugeriu ao Presidente da República que não realizasse esse encontro porque, fundamentaria, << os que vivem fora não fazem falta>>;
II. A SENHORA MINISTRA MANTÉM FAMILIARES QUE VIVEM E ESTUDAM NA EUROPA: De acordo com uma fonte que pediu anonimato, a senhora ministra mantém familiares que vivem e estudam na Europa. A ser verdade, não nos parece que a senhora ministra pense o mesmo dos seus familiares.
A hipótese B, por sua vez, já nos parece mais corroborável porque o executivo ao qual a senhora ministra pertence há muito que está preocupado com o desejo massivo de emigração que paira na cabeça dos jovens angolanos (tanto é que a sociedade civil angolana criou um "Movimento Migratório" que visa ajudar os jovens angolanos que queiram, a título de protesto à governação, abandonar Angola). Com receios da resposta à pergunta que questiona "o porquê" desse desejo colectivo de emigrar, de um tempo para cá o governo angolano vem aconselhando a sua população juvenil a não deixar o país; esses conselhos às vezes chegam em forma de "softpawer" (por via de discursos linguísticamente sofisticados) e outras vezes de forma cirúrgicamente musculosa (impondo aquilo que nós chamaríamos de entraves administrativos - disso temos como exemplos a vertiginosa subida do preço do passaporte e a inacção do governo angolano face ao tratamento que alguns consulados e embaixadas dão aos jovens angolanos que solicitam vistos).
Entretanto, não obstante o trabalho do executivo, parece-nos que o governo angolano não tem conseguido estancar esse desejo quase nacional de emigrar, prova disso é o facto de ter surgido uma máxima no seio da população juvenil angolana segundo a qual <<ainda que o jovem A se forme e o jovem B não, se B conseguir sair de Angola estará sempre económica e socialmente melhor do que A>>.
Sendo que a trigésima-sexta das "48 Leis do Poder" - do escritor americano Robert Greene - aconselha-nos a partir para a ignorância e desprezar o que não podemos ter/conseguir, para nós, é mais provável que o comportamento discursivo da senhora ministra tenha mais a ver com uma estratégia política central, ancorada no conselho de Greene, do que com uma convicção pessoal da senhora Luísa Grilo. Ademais, se partirmos do princípio de que o governo tentou estancar "o desejo massivo dos jovens angolanos de emigrar" e não conseguiu, o que nos impede de pensar que o governo terá gizado outra estratégia: o desprezo ou desvalorização do acto de emigrar (?). Mais: se olharmos para os eventos que antecederam o pronunciamento da senhora ministra do evangelho, aliás, da educação, Luísa Grilo, veremos que outros actores políticos (com particular destaque para um que diziam ser da Acção Psicológica) já tinham vindo a público desvalorizar o acto de emigrar, dando a entender que todos que emigram posto lá dormem debaixo das pontes e vivem mal e que vale apena ficar aqui do que ir para lá. Assim, tendo corroborado a hipótese B, aconselhamos a população mais atenta a não julgar nenhum outro governante que se vier a pronunciar em moldes semelhantes porque, sublinhe-se, do nosso ponto de vista só estarão a cumprir uma agenda superiormente orientada, baseada na trigésima-sexta lei de Robert Greene.