Luanda - Ah, o velho dilema técnico-linguístico: chamar de monólogo o que, na verdade, foi uma entrevista. Uma confusão quase poética – ou trágica, dependendo do ponto de vista e da inteligência de quem comenta. Porque, convenhamos, confundir uma entrevista (aquele acto civilizadíssimo onde uma pessoa pergunta e a outra responde) com um monólogo (aquele falatório a sós, muitas vezes diante do espelho ou da câmara) é quase tão ousado quanto chamar um comício de concerto sinfónico.
Fonte: Club-k.net
Mas vamos lá, por amor à clareza – e à precisão – distinguir as coisas como manda a cartilha e a lógica.
Entrevista, meus caros, é um jogo de pingue-pongue: uma pergunta aqui, uma resposta ali. Uma pausa, uma contra-pergunta, uma nova resposta. É dança de palavras, um vaivém de ideias. Pode ser morna, quente ou escaldante – mas é sempre plural. Um eco de vozes.
Monólogo, por outro lado, é o solo da ópera dramática. É quando alguém fala, fala, fala... e mais ninguém fala. Um espectáculo a solo de opinião, com plateia muda ou ausente. E não, não foi isso que se passou no exemplo citado. Portanto, por obséquio, não deturpem o conceito.
Agora... já que estamos a falar de monólogos, permitam-me introduzir uma versão moderna e muito praticada: o monólogo governativo. Este sim, digno de estudo linguístico e político.
O monólogo governativo é aquela modalidade rara – ou talvez demasiado comum – onde o Governo decide, proclama, decreta e executa... sozinho. Sem ouvir ninguém, sem debater com os sectores interessados, sem prestar contas aos cidadãos, especialistas, nem à própria razão. Um verdadeiro one-man show da democracia representativa. O Governo fala – e o povo, se quiser, que ouça. E se não quiser, que obedeça na mesma.
Nesse tipo de monólogo, o pacote legislativo eleitoral pode muito bem ser redigido entre quatro paredes, sem uma mísera pergunta de um jornalista ou um “concordo, mas...” de um cidadão. E quem ousa propor um debate? É logo acusado de agitação desnecessária.
Portanto, se é para usar a palavra monólogo, que seja com propriedade. Porque entrevista é diálogo, mas diálogo unilateral, só com uma voz a gritar no deserto do poder, isso sim – meus amigos – é o verdadeiro monólogo. E dos mais perigosos.