Luanda - Que África os africanos deviam ter? Que África os africanos merecem? E, afinal, que África têm os africanos, 62 anos depois do grande projeto da Organização da Unidade Africana (OUA)?

Fonte: Club-k.net

Faltam 38 anos para a tão falada África sonhada e projetada na famosa “Agenda 2063” da União Africana (UA), inspirada no Pan-Africanismo. Quem viver, verá e, com certeza, confirmará esta grande ambição que mais parece um filme de ficção. Não que eu não acredite na capacidade de realização do povo africano, mas porque a referida Agenda, cheia de objetivos, pilares, programas e aspirações, parece mais uma "cópia e cola" de programas de outras paragens e realidades que pouco ou nada se compadecem com a nossa. Muita teoria, pouca prática: este é o mal de que, infelizmente, padecemos.

Se William Du Bois e outros líderes que se lhe seguiram, como Kwame Nkrumah, Ahmed Sékou Touré e Thomas Sankara, no seu tempo, conseguiram trazer a África para os debates a nível mundial e, consequentemente, criar condições favoráveis para o processo de autodeterminação e independência política do seu povo, a continuação da luta contra todo o tipo de desigualdades ficou muito aquém das expectativas.

Os africanos deviam ter uma África livre da fome, da miséria, da penúria, do desespero, da falta de condições de saneamento básico e de uma educação precária e, em alguns casos, sem qualidade. Os africanos (sobretudo os jovens) deviam ter uma África em que não seria necessário arriscar as suas vidas, atravessando canais e mares à revelia, à procura de melhores condições de vida noutras paragens do mundo.

Os africanos merecem uma vida condigna; os africanos merecem respeito por parte dos seus governantes; os africanos merecem um continente que não sirva apenas de fonte de recursos naturais e matéria-prima para a produção de bens no estrangeiro, e que voltam para a África a preço de ouro.

Mas, infelizmente, os africanos vivem numa África onde o seu sonho vai-se desvanecendo cada vez mais e à medida que nos afastamos da fundação da OUA que, mal ou bem, cumpriu a sua missão, hoje substituída pela UA que parece ter estagnado no tempo, enfarinhada em projetos megalómanos, cuja concretização na vida dos cidadãos é visivelmente inexistente.

Afinal de contas, o que nos falta para termos uma África que defende os interesses dos africanos e que não deixa os seus filhos em segundo plano, à mercê da sua própria sorte?

A África só deixará de ser um sonho e só poderá ser reencontrada a partir do momento em que os africanos deixarem de ser um assunto secundário e constituírem a prioridade dos seus governantes que fazem da sua função uma eterna profissão, acomodando-se nos seus aposentos palacianos.

O mais certo é que o “viajante mor”, o novo inquilino e anfitrião da Sede da União Africana, parece mais preocupado em completar a sua tournée pelo mundo, antes de abandonar o Palácio, do que propriamente em contribuir para a resolução dos problemas que afetam a África e os seus habitantes.

Que este 25 de Maio de 2025 sirva de reflexão, para que os africanos não se regozijem e não se conformem apenas em festejar a data com fanfarra, trajos africanos exuberantes, pompa e circunstância, ouvindo discursos que não resolvem os seus problemas e que não matam a fome. Que comecem a desafiar a sua própria capacidade de inspirar, de realizar, de agir e de transformar vidas.

A África é muito mais do que discursos sonantes; a África é mais do que um sonho; a África é muito mais do que um simples continente. A África é o pulsar de um sentimento de pertença; a África é a revelação daquilo que é comum e, ao mesmo tempo, diferente; a África é uma mistura de partilha e solidariedade; a África é fonte de conhecimento e inspiração. A África é, na verdade, aquilo que cada um de nós traz consigo e faz com que tenhamos esta capacidade de resiliência e não desistência, mesmo em momentos mais conturbados.

Não nos acomodemos e não nos conformemos; pois, o comodismo e o conformismo sempre foram inimigos da mudança.

Africanose Africanas: Façamos da África um lugar onde os nossos filhos e netos possam viver e ter referências daquilo que nós fizemos de melhor para a sua continuação. As gerações que vêm depois de nós deverão se orgulhar da nossa passagem por este continente que é o símbolo e berço da HUMANIDADE.