Lisboa - 1 . A recente vaga de rumores apresentando Manuel Vicente, PCA da Sonangol, como personalidade destinada a ser futuro PR de Angola, para o que contaria com a vontade e aplicação de José Eduardo dos Santos (JES), é interpretada em meios do regime, e outros, como sendo devida a “cálculos políticos” do interesse do círculo presidencial.


Fonte: Africamonitor.net

A saber:


- Conveniência de “publicitar” o tema da substituição de JES; esvaziar assim, por indução da ideia de que JES está de partida, o principal motivo dos descontentamentos internos e da contestação política ao regime – representados pelo próprio.


- Provocar/testar reacções no regime e na sociedade; identificar/medir atitudes de apoio e desapoio e, concomitantemente, delinear o “processo da sucessão” – no sentido de M Vicente ou outro.


Os novos rumores, sob forma de ilações ou interpretações, reavivaram outros com o mesmo sentido (AM 501), registados nos últimos meses. Provieram de informações prestadas por fontes próximas de JES e deram lugar a destacados artigos de imprensa, Novo Jornal e Expresso, com ampla repercussão noutros ocs.


À conveniência que JES sente de propalar o assunto da sua substituição, com o intuito de fazer esmorecer a sua condição de alvo mais visado da actual contestação política ao regime (AM 591), acresce a intenção de criar um ambiente susceptível de melhorar a sua imagem e transmitir tranquilidade ao processo da sua substituição.


2 . O assunto da “sucessão” de JES (sic) nunca foi, até ao momento, formalmente abordado em nenhum orgão de direcção do MPLA, CC ou BP, com competências decisórias próprias. Fragata de Morais e Rui Falcão, solicitados a comentar as notícias sobre M Vicente, reagiram em conformidade com tal realidade.

 

São atribuídas a JES atitudes reveladoras de que tem a noção de que parte considerável da direcção do partido, ultimamente atreita em fazer exibições de independência, resistirá ou não aceitará facilmente o nome de M Vicente – agindo por influência de interesses e de questões de princípio como a de que o PR deve ser um “histórico”.

 

3 . O nome de M Vicente é, de facto, o que está na mente de JES como personalidade pela qual lhe agradaria ser substituído – desvanecida que se julga estar, por efeito da actual conjuntura de convulsões políticas, uma suposta vontade de se manter no poder, invocando razões como riscos de instabilidade decorrentes da sucessão.


A apresentação do nome de M Vicente, provavelmente a personalidade do regime na qual JES mais confia (acesso directo e permanente entre ambos), e com a qual mais partilha segredos do regime, também surge e é explorada em razão de diferentes critérios de exclusão de partes.

 

- Pitra Neto, pelo qual JES nutria antigas preferência como seu substituto na PR, exclui peremptoriamente tal cenário.

 

- Fernando da Piedade Dias dos Santos, vice-Presidente, almeja substituir JES; julga-se apto e em condições para tal, mas, de facto, não goza de crédito e confiança suficientes.


M Vicente é visto por JES como alguém que pode, com vantagem, colmatar a lacuna da recusa de Pitra Neto e persuadir FP Dias dos Santos a conformar-se com outro destino que não a PR. Tem a reputação de um tecnocrata, com prestígio interno e externo, dispondo de poder e influências acumulados na sua passagem pela Sonangol.

 

A conotação estabelecida entre JES e M Vicente, alimentada por estreitas ligações entre ambos e seu alargamento a figuras da família/círculo presidencial (laços de amizade com todos os filhos), confere-lhe favoritismo como candidato. Mas a conotação também pode vir a revelar-se contraproducente, caso a contestação a JES se acentue.

 

4 . Em Mar.2011, numa entrevista ao Novo Jornal, M Vicente anunciou a intenção de abandonar a Sonangol no fim do presente ano. Acerca do seu futuro pós-Sonangol as suas declarações foram evasivas; sintomaticamente, porém, considerou-se à disposição de JES no que toca à sua vida política.

 

O fim do ano de 2011 é o momento aprazado por JES para anunciar se apresenta ou não a sua candidatura às eleições a realizar em Set.2012. Os dois cenários considerados plausíveis deixarão sempre antever quem será o substituto de JES (o respectivo anúncio formal será também uma forma de pressão sobre a decisão final do partido).

 

Os referidos cenários:

- JES simplesmente não se candidata, anunciando a sua retirada.

- O candidato a vice-Presidente, que apresenta, é potencialmente o seu sucessor.


Nos últimos meses foram registados outros factos considerados reveladores de que M Vicente goza da preferência de JES como seu substituto – para o que teria sido iniciado um “processo de afirmação”: a sua fulgurante ascensão na hierarquia do MPLA, congresso de Fev.2011; uma reestruturação da Sonangol que o libertou de obrigações.


A ascensão de M Vicente na escala hierárquica do partido consistiu na sua nomeação para o BP, em cujo secretariado lhe foi atribuído o controlo do sector empresarial do MPLA (função anteriormente confiada a João Lourenço e, depois, a Mário António); é um cargo propiciador de favores e estes geradores de influência.

 

Além do poder e influências próprios da presidência da Sonangol e do secretariado do BP para as empresas, M Vicente também é detentor de vasto património – no país e no estrangeiro. O negócio a que aparentemente está mais ligado, em Luanda, é o do imobiliário (através de uma empresa, “Vernes”, proprietárias de grandes torres).

 

Por efeito da reestruturação dos orgãos de gestão da Sonangol, Batista Sumbe, (AM 516), substituiu M Vicente como presidente da comissão executiva da holding da companhia. É um quadro da sua plena confiança, tido como muito competente, embora não goze da simpatia de JES.

 

5 . No quotidiano de M Vicente começaram também a ser notados comportamentos não conformes com a discrição extrema que era timbre da sua vida; passou a aparecer mais frequentemente em locais públicos – restaurantes, p ex. Também denota agora mais apetência pela política e cultiva relações com figuras proeminentes do regime.

 

Antes, sempre que o nome de M Vicente era alvitrado como potencial “candidato à sucessão”, fontes que lhe são próximas manifestavam dúvidas, argumentado que o mesmo não tinha apetências/ambições políticas, assim como não revelava preparação e/ou sensibilidade política condizentes.

 

6 . Os rumores sugerindo que M Vicente se perfila agora como “candidato à sucessão”, são acolhidos em meios do regime com reacções/comentários de sentido ambivalente – pouco favoráveis no que toca a figuras do aparelho do partido; bem aceites nas chamadas bases e na sociedade – especialmente entre os quadros mais jovens.

 

Para a aceitação de que goza contribui a reputação que o apresenta como o gestor que em maior escala/profundidade levou as políticas de angolanização dos quadros técnicos das empresas. Os quadros da Sonangol e suas subsidiárias são predominantemente constituídos por jovens a que a companhia garantiu formação de elevado nível.

 

Além de FP Dias dos Santos (AM 512) e de M Vicente, também têm sido referidos nos últimos anos outros putativos candidatos, tais como os de Paulo Kassoma (AM 441), José Filomeno “Zenu” e Carlos Feijó. A proliferação de nomes é considerada própria de “políticas de engodos” destinadas a facilitar as decisões de JES.

 

C Feijó, figura interna e externamente prestigiada por atributos como a sua competência e integridade, ainda é visto como alguém não inteiramente arredado da hipótese de vir a ser PR. É consabida a sua não aceitação, mas caso a solução M Vicente não se venha a impor, julga-se que ainda pode ser ele a alternativa.

 

Além da sua elevada envergadura intelectual, goza de nítida popularidade na sociedade. É visto como um impoluto e cultor de um pensamento político próprio – não alinhado com ideias dominantes. Também é apontado como muito próximo de M Vicente.