Luanda -  O 1.º secretário provincial de Luanda do MPLA, Bento Bento, mostrou-se muito sentido com as acusações, que reputa de absolutamente falsas, proferidas pela Fundação 27 de Maio, na voz do seu presidente, Silva Mateus, de que teria sido algoz de dois antigos colegas seus da «Jota» durante a purga que se seguiu à chamada «intentona fraccionista» de 1977, segundo uma notícia publicada há dias pelo «Club-K».


* Salas Neto
Fonte: SA

«Eu não tive nada a ver com o 27 de Maio»

Escandalizado, Bento Bento diz que Silva Mateus, a quem, em face disso, julga não bater bem da tola, ou tem de pedir desculpas, algo de que ainda vai a tempo, ou então terá de provar as acusações que proferiu, muito graves por sinal, em tribunal.


Para o homem-forte do MPLA em Luanda, este era o último cenário que pretenderia, uma vez que não quer que Silva Mateus surja depois como «mártir», quando sentir a mão pesada da justiça, em face da ligação política que sempre se fará em face da condição do eventual queixoso.


Ao falar disso, Bento Bento conta a história de alguém que também lhe tinha feito acusações gratuitas sobre corrupção durante uma festa e que quase se borrou diante do juiz, abrindo-se em desculpas e mais desculpas, quando viu que a história de vir a provar as suas  «atoardas» em tribunal, afinal, não era brincadeira nenhuma. (Não deu para evitar o riso).


«É o que se pode passar com o Silva Mateus se o puser no tribunal para provar o que disse. E vou fazê-lo, se ele não me pedir desculpas, coisa de que ainda vai a tempo», avisou Bento Bento.


«É assim esta gente: é só para arranjarem dissabores para os seus filhos, para a sua família, enfim, quando podiam muito bem evitar situações dessas», acrescenta.


O 1.º secretário de Luanda do MPLA garante que não tem – não pode ter – as mãos sujas de sangue, ao mesmo tempo que diz não compreender quais as reais motivações de Silva Mateus ou da Fundação 27 de Maio ao incluir-lhe gratuita e caluniosamente no alegado «grupo de matadores» que se excedeu na repressão ao movimento golpista liderado por Nito Alves, na ressaca do levantamento.


«Não entendo como é que deixam os verdadeiros homens da Disa envolvidos nisso em paz, para virem meter-se comigo. Eu não posso servir de bode expiatório de ninguém pelo que se passou.


Se muitas das pessoas envolvidas nas matanças ainda estão vivas, porquê logo eu, que nada tive a ver com isso?», interroga-se, aparentemente incrédulo, Bento Bento, reiterando que não tem (e nunca terá) as mãos sujas de sangue. «Aliás, eu próprio também tinha medo da Disa», diz. Conta que, nesse tempo, era praticamente miúdo, e não tinha influência suficiente na «Jota» para se envolver em algo tão pesado como o que lhe acusam gratuitamente de ter feito. Aliás, como diz, esta é uma história completamente  inventada, até porque ninguém conhece ou conhecia as tais pessoas que Silva Mateus ou a sua fundação diz que ele matou.


«O único coordenador de bairro da JMPLA que eu me lembro de ter ido preso no ‘27’ é o Santos Domingos, que anda aí bem vivo. E, perguntem-lhe, não fui eu, Bento Bento, que o prendeu», diz, com uma certa ironia. «E se há alguém na JMPLA com alguma  responsabilidade na purga, não pode ser o Bento Bento, que na altura não era ninguém », atesta. E arrola nomes de antigos colegas da «Jota» que podem testemunhar a seu favor, como Ângela Bragança, Alfredo Júnior, Nando Galinha, Zito Daniel, Nelo Ruas e «tantos outros».


«Eu não tive nada a ver com o ‘27 de Maio’. Aliás, também tive um irmão que andou na cadeia durante muitos anos», conta.


Segundo o político do MPLA, se Silva Mateus quer ganhar protagonismo, não o deve fazer a inventar coisas com tal gravidade para sujar os outros. «Não é assim que se faz política», recomenda.


Reitera que é pessoa de bem, que não faz mal a ninguém, descontando já alguns «malentendidos » que podem resultar do jogo político limpo. Para Bento Bento, não é a caluniar e a difamar pessoas inocentes que Silva Mateus e a sua fundação homenagearão as vítimas do 27 de Maio, tantos às dum lado, como as do outro, uma vez que os nitistas não foram santinhos nenhuns. Também mataram. E bem.


«Seja como for, é assim: ou Silva Mateus, que deve estar maluco, me pede desculpas, e ainda vai a tempo de fazêlo, ou vai ter de provar o que disse em tribunal», reiterou o 1.º secretário do MPLA em Luanda, reiterando também que continua a não compreender quais as reais motivações desses ataques à sua pessoa. «Ora, só podem ser políticas», respondeu-lhe o jornalista, mas em pensamento. ■


«Eu, retratar-me?!
Nem pensar!»


O general (na reserva) Silva Mateus, confrontado, na terça-feira, com a petição de Bento Bento, disse, em conversa com o Semanário Angolense, que não vai pedir desculpas coisa nenhuma, afirmando que mantém tudo o que disse a propósito sobre a alegada participação do actual homem-forte do MPLA em Luanda na purga do 27 de Maio.


«Você me conhece bem: não sou homem de pedir desculpas. Ele e os outros que forem referenciados que se queixem aos tribunais. Estamos prontos p’ra isso. Tudo o que a nossa fundação disser sobre o 27 de Maio não é passível de desmentidos de nossa parte. Temos provas e vamos apresentá-las na devida altura. O Bento Bento que se vá queixar aonde quiser», disse, inchado (ou arrogante mesmo), Silva Mateus.

 

Interrogado sobre se tinha como provar o que disse ou o que ainda vai dizer, Silva Mateus revelou que só está a incluir na lista dos «Matadores do 27 de Maio» os casos sobre quais pendem pelo menos três testemunhos credíveis, na sua óptica.

 

Quando o perguntamos se já tinha a tal «lista dos matadores» pronta e se a havia apresentado, sábado, na Praça da Independência, como prometera, revelou que não pode gastar todas as «munições» de uma só vez, já que as manifestações afins deverão continuar. «Uma coisa de cada vez. Não posso apresentar tudo duma assentada, senão fica sem chama», disse, sem antes prometer que a seu tempo fará revelações mais bombásticas sobre o 27 de Maio, algo que só vai  parar quando o Chefe do Executivo se pronunciar a propósito. «Ainda que isto leve dois anos», remata o arrojado general. ■