Luanda  - Observando bem as sociedades modernas e a postura da classe política e das suas elites, torna-se tão evidente a depreciação profunda de valores políticos e morais. Esses valores, na essência, constituíram-se em matrizes ideológicas, quer do Capitalismo, quer do Socialismo; assumindo formas substanciais a partir de 1945, no fim das duas grandes guerras mundiais.

Fonte: Club-k.net

Convém realçar o facto de que, a liberdade e a igualdade são dois princípios intrínsecos, inseparáveis, interligados; os quais, se conjugam reciprocamente. Sem a liberdade, não há a igualdade; e sem a igualdade, não há a liberdade; vice e versa. Neste contexto, a dignidade humana baseia-se nestes dois valores fundamentais, que asseguram e sustentam a vida humana. Esses dois valores básicos têm sido defendidos, com firmeza, tanto pelo Capitalismo, quanto pelo Socialismo. Embora, as formas de encará-los e interpretá-los sejam diferentes, de acordo com sistema económico e politico, que estabelece o modo de produção e o modo de distribuição do rendimento.

No sistema capitalista, por exemplo, a igualdade é reflectida na valorização de um conjunto de factores produtivos, em que o trabalho humano (em todas dimensões) destaca-se como factor principal da produção e da produtividade. Ou seja, o mercado é o mecanismo regulador, que relaciona os salários aos preços dos produtos ou das mercadorias, de acordo com a qualidade do trabalho despendido, com o poder de compra e com a qualidade das mercadorias – assente na lei da oferta e da procura.

Para que haja equilíbrio entre os salários, os investimentos e os lucros, a transparência torna-se imperativa e indispensável. Pois que, a valorização de cada factor de produção, numa equação complexa, exige necessariamente a transparência e a integridade, de modo que, «se vinque a equidade», em todas as etapas da produção e da distribuição do rendimento. Quaisquer distorções que surgirem neste processo têm consequências nefastas sobre as forças produtivas, que são vulneráveis diante os detentores de capitais. Não obstante, o trabalho humano, em todas dimensões, é o factor decisivo da produção, da produtividade, da inovação, do crescimento económico e do bem-estar; de facto, é o «epicentro» da actividade humana.

Sintetizando esta linha do pensamento, o salário justo é aquele que reflecte o «valor real» do trabalho despendido; que concede às forças produtivas o poder de compra adequado; e que, permite a poupança e o crescimento, capazes de tirar as camadas baixas da pobreza; lançando-as à classe média; engrossando constantemente esta classe, tornando-a mais ampla, mais estável, mais crescente e mais dominante; fazendo com que haja equilíbrio social na sociedade, evitando a dominação do país por um punhado de pessoas, enriquecidas de forma injusta. A «ideia-base» é de criar a riqueza para todos e de permitir que, os que têm mais capacidades de fomentar o capital, o façam correcta e justamente, dentro dos marcos da lei.

No Socialismo, por sua vez, a igualdade é reflectida através do sistema da planificação da economia, da fixação de salários e dos preços do mercado e da centralização do poder económico e politico. O governo, neste sistema, desempenha o papel do mercado, como regulador e distribuidor do rendimento nacional. A distribuição equitativa do rendimento é considerada como sendo o princípio fundamental do Socialismo, que se traduz na «luta de classes», como forma de suprir as desigualdades sociais.

Na lógica do Socialismo Cientifico, concebido pelo Karl-Marx e Friedrich Engels, a luta de classes visa essencialmente eliminar as classes, para que surja uma sociedade sem classes, em que não exista pobres ou ricos, que apoderem-se da riqueza do país, em detrimento de toda gente. Os que apreenderam o Marxismo-Leninismo, durante a luta anticolonial, como no meu caso particular, conhecem bem estes valores sublimes do Socialismo.

Em seguida, o Karl-Marx e Friedrich Engels, ambos Filósofos Alemães, defendiam a tese de que, a acumulação desenfreada de capitais e a concentração da riqueza do Mundo nas mãos de uns poucos, representará a fase mais avançada do Capitalismo, que transformar-se-á no «Imperialismo Financeiro». Nesta altura, o poder político estará sujeito ao Imperialismo Financeiro, detentor de grandes capitais.

Por outro lado, na visão do Karl-Marx, o sistema económico mundial ficará submetido aos esquemas subtis da acumulação avultada de capitais, sem controlo formal dos mecanismos dos Estados Capitalistas; operando num ambiente de secretismo absoluto, desviando fundos públicos e fazendo deles meios de enriquecimentos ilícitos.

Os Filósofos Alemães, citados acima, afirmavam que, este estádio avançado do Imperialismo Financeiro será caracterizado pela «decadência moral», a ser dominada por individualismo, egoísmo e ganância insaciável. O «Bom Senso» e o «Altruísmo», inerente do Homem, como atributo de Deus, que asseguram e valorizam a dignidade humana, deixarão de existir. Tivera sido nesta base, que fez com que, Karl-Marx exortasse a Classe Proletária do Mundo para «Unir-se» contra o Imperialismo Financeiro.

Cá, em Angola, está ideologia socialista, tivera sido abraçada, de forma ortodoxa, pelo MPLA, cujo Presidente actual, José Eduardo dos Santos, teve sua formação superior e técnico-profissional nas Academias Socialistas, na União Soviética. Só que, é dramático como sucedeu a metamorfose súbita dos dirigentes do MPLA, do «socialismo científico», para o capitalismo selvagem, corrupto e prepotente. Este fenómeno, da metamorfose degradante, está na base da má-governação, que resultou na crise actual que grassa o País.

Vendo o Mundo contemporâneo, deste Século XXI, nota-se que, ambos sistemas económicos (capitalismo e socialismo) se encontram na profunda degradação moral. Manifestando visivelmente o desmoronamento gradual dos valores e dos princípios estruturantes, defendidos pelas sociedades modernas. As elites diversas, de muitos países, que têm as responsabilidades acrescidas de cuidar a humanidade e de promover a boa governação, a boa parte está mergulhada na imoralidade e na ganância; enganando os seus povos e saqueando as riquezas, em benefícios próprios; deixando os seus concidadãos na penúria e na pobreza extrema.

O surgimento de «Panamá Pepers» desvendou o mistério, de uma vasta teia de aranha, que opera neste paraíso fiscal, da América Central. Esta rede clandestina abranja muita gente, de todas partes do mundo, envolvidos nos negócios duvidosos ilícitos e nas transacções de capitais avultados, fora do circuito formal, das instituições financeiras, sob alçada do Banco Mundial e do Fundo Monetário Internacional.

Neste paraíso fiscal, de acordo com «Panamá Pepers», estão diversas personalidades, estadistas, políticos, religiosos, empresários, artistas, grupos terroristas, traficantes de armas, de drogas e de seres humanos, bem como governantes. Os negócios ocultos e as transacções financeiras cruzam-se entre si, numa interacção plena, sem possibilidade de distinguir e cifrar exactamente as linhas divisórias entre si, num sistema complexo e sofisticado.

O Fundo Soberano Angolano, sob alçada do José Filomeno dos Santos, filho do Presidente Angolano, aparece visivelmente neste circuito, através de enumeras ligações às empresas, às pessoas (com curriculum comprometidos) diversas e aos escritórios virtuais, que mudam constantemente de nomes e de contactos telefónicos e informáticos.

O Fundo Soberano Angolano está bem enraizado em Londres e na Suíça, com actividades intensas no paraíso fiscal suíço. O Fundo Soberano opera num ambiente restritivo e de absoluto secretismo. Os seus interesses estão bem ocultados, não identificáveis, sem transparência dos seus investimentos, dentro ou fora do país. Acima disso, o Fundo Soberano Angolano funciona paralelamente dos capitais da Isabel dos Santos. Esta última, por sua vez, tem investimentos volumosos em Portugal; com acções significativos no Banco BPI, Banco BIC Portugal e BFA.

Estas plataformas, mencionadas acima, actuam como «conduit financeiro», para movimentar capitais de Angola, com destino à Europa, passando pelo Portugal. O Fundo Soberano Angolano tem servindo-se igualmente da plataforma de Portugal, acima referida. Portanto, a «Desblindagem», feita há pouco tempo, de afastar as acções da Isabel dos Santos do BPI, exigida pelo Banco Central Europeu (BCE), deveu-se essencialmente deste fenómeno, de negócios e de transacções menos transparentes entre Banco de Fomento Angola (BFA) e BPI de Portugal.

A teia de negócios (secreta) criada pelo Fundo Soberano Angolano não permite qualquer fiscalização do Parlamento Angolano ou do Tribunal de Contas. As suas portas estão todas bem vendadas e bem trancadas, sem possibilidade para dar uma vista de olhos lá dentro, e ver como o dinheiro do país está sendo gerido e investido. Se tivéssemos Tribunais Independentes, como na Africa do Sul e no Brasil, talvez tivesse sido possível romper com este esquema, de carácter mafioso, no sentido de apurar os factos, de como este Fundo funciona.

Na verdade, o Fundo Soberano Angolano tem três propósitos principais, sendo: a) servir de oleoduto para a transacção das receitas petrolíferas de Angola para as Contas do Presidente e da sua família, através da SONANGOL; b) servir de Depósito para financiar os «Lobies» junto das Potências Ocidentais, das Organizações multilaterais e das Instituições Internacionais, com fim de promover a imagem do regime angolano; c) servir de «Lavandaria» e de «Fonte» de financiamento de operações ocultas.

Em súmula, o Mundo passa por uma fase crítica de degeneração de valores políticos, culturais, cívicos, morais e espirituais, em que se nota visivelmente a decadência gradual das instituições políticas, cívicas, eclesiásticas, económicas e financeiras, que afirmaram-se logo após a Declaração Universal dos Direitos do Homem, em 10 de Dezembro de 1948, no rescaldo da Guerra Mundial II, que terminou em 1945. A boa governação e a responsabilidade dos governantes perante os governados, só existem na teoria, sem sua aplicação na prática. A ganância pelos bens leva ao saque dos Cofres dos Estados, criando crises financeiras e económicas, com repercussões desastrosas sobre o tecido social das populações.

O que, de grosso modo, provoca instabilidades politicas e sociais no Mundo. Sendo exploradas subtilmente pelos grupos extremistas, que operam numa rede vasta, a nível mundial. Isso indica que, esta Ordem Mundial, que vigora no Ocidente e no Oriente, têm a mesma identidade, com dificuldades enormes de fazer face aos grandes desafios que o Mundo enfrenta hoje. A não ser que, haja de facto, mudanças profundas do sistema politico e do sistema económico-financeiro. Por isso, torna-se imperativo fazer reformas profundas do sistema bancário mundial.

Luanda, 24 de Abril de 2016