Luanda - “Esta é a minha última intervenção, na qualidade de Presidente do MPLA, função que, honrosamente, desempenho desde 21 de Setembro de 1979, quando, em circunstâncias alheias à minha vontade, fui escolhido pelo Comité Central do MPLA para substituir o falecido Presidente António Agostinho Neto.

Fonte: MPLA

“DEIXO-VOS O MEU MODESTO LEGADO”

Não foi, como disse na altura, uma substituição fácil ou possível, mas apenas uma substituição necessária.

Alguns camaradas aqui presentes sabem que eu nunca ambicionei tal cargo e nem tão-pouco pensei que pudesse permanecer no mesmo tantos anos. Mas, as circunstâncias históricas e políticas assim o determinaram.

Procurei, ao longo destes anos, dar o melhor de mim, aquilo que estava ao alcance das minhas forças e das minhas capacidades intelectuais alicerçadas nas profundas convicções políticas e ideológicas, que, desde a juventude, nortearam a minha vida.

Não existe, naturalmente, qualquer actividade humana isenta de erros e assumo que também os cometi, pois só deste modo os pudemos ultrapassar. O erro é parte integrante do nosso processo de aperfeiçoamento. Por isso se diz que aprendemos com os erros.

Hoje, dia oito de Setembro de 2018, é de cabeça erguida que estou neste grande conclave do nosso Partido, na presença de mais de dois mil delegados, com a convicção do dever cumprido, pronto a passar o testemunho de liderança do Partido ao seu próximo Presidente.

Para trás ficam anos de luta, de resiliência, de firmeza, de camaradagem e de solidariedade para que o MPLA se afirmasse como um grande Partido vencedor, servindo os interesses superiores do povo angolano.

O MPLA conquistou e consolidou a Independência Nacional, manteve a integridade do nosso território, de Cabinda ao Cunene, do mar ao leste; assegurou a conquista da paz, da reconciliação nacional e da democracia e empenhou-se, entre outras frentes, na luta pela justiça social e na modernização do País.

Em todas as vertentes de luta que visam aperfeiçoar a sociedade e garantir ao cidadão os seus plenos direitos, o MPLA situou-se sempre na linha da frente.

Todos juntos, jovens, mulheres, homens, militantes e povo em geral, nos batemos pela edificação deste grande momento que se chama o Partido – MPLA.

Apesar de tudo, o Partido — MPLA é um edifício que nunca estará concluído, porque a dialéctica da vida exige que ele seja constantemente aperfeiçoado, a fim de fazer face às exigências de cada momento específico do desenvolvimento económico, social e cultural do País, onde ele se insere como um corpo vivo, que procura catalisar todas transformações que ocorrem ao longo da história da Nação angolana.

Por essa razão, o MPLA, embora preserve a sua matriz fundacional, passou por imensas transformações desde 1979, altura em que assumi a sua Presidência.

O contexto interno e internacional exigiu a sua evolução para um Partido aberto a todos os estratos sociais, que preconiza o desenvolvimento com base na economia de mercado.

Com efeito, nos finais da década de 80 do século 20 assistimos a uma alteração no jogo político mundial, com o fim do bloco socialista, encabeçado pela União Soviética e com a decadência das políticas orientadas para o fortalecimento da economia estatal.

O MPLA, neste quadro, refundou os seus princípios ideológicos, os seus objectivos estratégicos e os seus métodos de organização e de acção, tornando-se num Partido mais democrático e mais moderno, capaz de obter nas urnas a legitimidade do exercício do poder político.

Com o advento da democracia e a constituição de um Estado democrático de direito, o MPLA passou a reger-se pelos princípios da transparência, da organização e da gestão democrática e da participação de todos os seus membros, o que implicou o abandono, por exemplo, do princípio do Centralismo Democrático. Isto é, passamos a ter eleições periódicas dos dirigentes pelas assembleias ou conferências representativas dos seus membros; admitimos a possibilidade de candidaturas alternativas e a prática do sufrágio secreto.

De um Partido de cerca de 35 mil membros, em 1979, o MPLA cresceu e tem hoje mais de quatro milhões de membros.

Começa neste 6.º Congresso Extraordinário uma nova era na vida do Partido. O Comité Central e o novo Presidente do Partido terão a incumbência de manter a rota do MPLA no rumo certo, o que implica, preservar os princípios e valores do MPLA, manter a unidade e a coesão internas, estimular os militantes, aprimorar a nossa organização, mobilizar o povo e o eleitorado, a fim de obter novas vitórias.

A grande tarefa que se vai colocar a todos é como levar o nosso Partido desde o ponto em que se encontra no presente, até ao lugar onde se pretende que esteja no futuro.

Deixo-vos o meu modesto legado para que continuem a trilhar os caminhos preconizados pelas figuras cimeiras da nossa história recente que estiveram na base da fundação e da construção do MPLA, entre as quais destaco a proeminente figura do Presidente António Agostinho Neto.

Que se encontre nos mesmos o estímulo necessário para a vontade firme de se combater a pobreza e a exclusão, de se promover o bem-estar social e de se preservar a paz e a estabilidade política.

Deixo aqui uma palavra de profunda gratidão a todos quantos, com zelo e dedicação, me apoiaram sempre durante todos estes anos no exercício da Presidência do Partido, tornando possível o seu crescimento e fortalecimento.

Trago-vos no coração, onde reservo um lugar especial para o povo angolano.
Muito obrigado.

Desejo-vos êxitos e declaro aberto o 6.º Congresso Extraordinário do Partido MPLA”.