Durante um “briefing” com o Ministro da Segurança Charles Ngakula, realizado na sexta feira do dia 23, um grupo de embaixadores africanos acreditados em Pretoria,  revelou  que em Abril do mês passado teriam enviado uma carta alertando o Ministério dos Negócios Estrangeiro da África do Sul.

Ronnie Kasrils , o Ministro da inteligência sul africana que um dia antes deste “breafing” foi anfitrião, na cidade do Cabo, da  5ª conferência do Comité dos Serviços de Informações e Segurança de África (CISSA, sigla em inglês), admitiu a imprensa que estavam conscientes de  que uma corrente de  sentimentos anti- imigrantes iria causar uma explosão de violência. Kasrils reconheceu que foram surpreendidos e relatou que por trás desses incidentes há um grupo de elementos oportunistas que tem estado a manipular grupos locais.

O Governo sul africano tem sido alvo  de criticas face a passividade em lidar com as ondas de violações e ataques xenófobos. Na altura em que África do Sul carecia de um forte apelo, as três principais figuras da nação tinha “abandonado” o pais. Thabo Mbeki havia se ausentado para uma cimeira na Tanzânia. A Vice presidente  Phumzile Mlambo Ngcuka estava em missão de serviço na Nigéria, o líder do ANC Jacob Zuma de malas feitas para férias na Europa. O trio foi forçado a não se ausentar do pais e a actuar com procedimentos “mais práticos” para desencorajar os enfurecidos populares que cometiam agressão contra os estrangeiros. De regresso dispersaram-se pelo interior tendo a  Vice Presidente e o líder do ANC discursado em algumas áreas rurais. O Presidente Thabo Mbeki acabou por fazer  um pronunciamento a nação, no domingo passado, condenando a violência que considerou  uma vergonha  para a  África do Sul: “Nunca, desde o nascimento da nossa democracia, havíamos sido testemunhas de semelhante barbaridade. Devemos considerar os acontecimentos das últimas duas semanas uma vergonha absoluta”.

Para muitos o discurso do Presidente tardou demasiado. O analista  político Sipho Seepe pelo menos é um dos que assim pensa. Para ele  “Foi um grande discurso, porém tardio”. O analista entende que “O desafio não consiste em condenar a violência. Consiste em tomar medidas imediatamente quando começa o tumulto no país”.

Para Kgalema Motlanthe, vice-presidente do ANC, citado pela AFP, a miséria explica a violência. "Quando muitas pessoas vivem em condições sórdidas, basta um incidente para que tudo exploda", declarou, denunciando a reação tardia das autoridades "que incentivou outras pessoas que  vivem em condições semelhantes a perpetrarem ataques idênticos".

Motlanthe admitiu que os sul-africanos, "que não tiveram acesso à educação" por causa das injustiças que vigoravam na época do apartheid, que acabou em 1994, têm inveja dos estrangeiros, sobretudo dos zimbabuanos mais qualificados.


Aproveitamento político dos adversários  de Mbeki

Os detratores  de Thabo Mbeki emitiram sinais nas ultimas semanas indicando que não estão adormecidos. Aproveitaram o cenário actual para pedir a cabeça do Presidente. Num comício – jantar o líder do partido comunista sul africano havia apelado  a Mbeki que deixasse o poder. Semanas antes, o empresário Tokyio Sexwale membro do comitê executivo do ANC fez o mesmo. Outros quadros de bases não quiseram perder a carruagem da critica. Entretanto o Vice Presidente do ANC Kgalema Montlanthe reagiu dizendo que a remoção de Thabo Mbeki, a frente dos destinos da nação, não faz parte da agenda do seu partido.

Se antes as razões  evocadas era o desencontro da coabitação dos dois centro de poder que o pais enfrentavam, hoje os detratores de Mbeki apresentam  um discurso direcionado a inabilidade do Governo em lidar com as políticas de proteção aos imigrantes.

Tinyko Malukele um conhecido analista político desdramatizou os pedidos de renuncia a Mbeki dizendo que esses apelos  vem de uma minoria frustrada pela aparente falta de cooperação por parte do mais alto magistrado da nação. Para Malukele o Presidente só pode ser removido por uma resolução adoptada pela Assembléia Nacional em caso de serias violações a constituição, falta de conducta ou inabilidade de exercer as suas funções. O analista resfria os discursos alertando ser um assunto de competência do parlamento e que  não pode ser o ANC a demitir o Presidente Thabo Mbeki.

Preocupação das autoridades angolanas

Indicadores apontam a preocupação das autoridades angolanas ao mais alto nível. A emissora Voz da América (VOA) avança com informações, esta semana, que dão conta de uma possível deslocação a África do Sul do Ministro João Miranda de que será portador de uma  mensagem do Presidente José  Eduardo dos Santos ao seu homologo sul africano Thabo Mbeki. O teor da missiva segundo aquela estação radiofônica, devera reflectir  preocupação das autoridades angolanas face a onda de violência provocada pelos ataques xenófobos. Enquanto isso as missões consulares angolanas em Joanesburgo, Pretoria e Cape Town mantem as portas abertas ao compatriotas que manifestam interesse de regressar a Angola.

Do lado da comunidade, alguns estudantes angolanos em Joanesburgo admitem que não foram a escola a semana passada devido ao medo. Os que estão no internato do Bishop College não saíram para o passeio com os amigos ou familiares no fim de semana após aos incidentes. Um angolano entrevistado pela SABC, a Televisão sul na cidade do Cabo disse que já não se sentem “bem vindos” na África do Sul.  Os aviões da transportadora TAAG tem ido para a capital de Angola lotados. O mesmo já não se pode falar da rota Luanda- Joanesburgo.  Ao desembarcar, Domingo passado, no aeroporto internacional de Joanesburgo, o editor de cultura do Jornal Folha 8 Nvunda Tonet observou que o vôo o transportou vinha vazio. A sua tese é afirmada por mais compatriotas.


Fonte: Club-k.net