Luanda - O amigo Faustino Henrique defende que a UNITA só ganharia se investisse num processo de "dessavimbização". Em outras palavras, sugere que a UNITA se desfaça da memória do seu líder fundador, Jonas Malheiro Savimbi. Pelo que acompanho da UNITA há mais de 20 anos constatei que mais do que ter-se  imposto  como “Presidente” dos seus seguidores, Savimbi fez-se pai dos seus militantes. Em África ninguém mata um pai. É este o segredo da UNITA, para se compreender a importância que a cerimonia das exéquias de Savimbi tem para com os seus seguidores. É um quadro totalmente diferente ao do MPLA, em que recentemente um ex-ministro revelou que nunca foi recebido pelo ex-presidente da República.

Fonte: Facebook


Jonas Savimbi vivia rodeado de guarda-costas (Guido, Pelembe, Kate, Mbule, Kalias, Njolela, e etc). Estes viviam em sua casa desde miúdos. Tratavam-no por “Pai”. Nas correspondências internas com os seus colegas, Savimbi assinava “Pai” ao invés do próprio nome.

 

Por exemplo, quando Abel Chivukuvku esteve ferido em 1992, em Luanda, Jonas Savimbi instruía o general Dembo para através de uma rede clandestina da região norte enviar dinheiro para Abel para que este não passasse dificuldades na capital do país. Implorava pela sua libertação. Pedia ao governo de Angola para que soltasse o seu médico pessoal, Carlos Viegas Morgado, retido nos massacres de Luanda, para ir assistir ao funeral da mãe em Portugal.

 

No congresso do bailundo quando Celestino Capapelo transmitiu a Savimbi que Abel estava a “fazer muitos amigos no MPLA”, Savimbi chamou-lhe, em casa, para dizer que tinha informações que este tinha ambições para tomar o seu lugar na liderança da UNITA. A sua primeira chamada de atenção foi lhe transmitir que era seu pai. Também na década de 90, quando Adalberto da Costa Júnior casou-se, no Huambo, Jonas Savimbi fez questão de realizar uma festa como se fosse de um filho encomendando toda logística da Namíbia. Diz-se ter sido uma das maiores farras nas hostes da guerrilha. Costa Júnior não vivia nas matas, mas quando fosse ao interior, Savimbi chamava-lhe e tinha acesso aos seus aposentos como se fosse um filho.

 

No final da década de noventa, quando o general Altino “Bock”, deu luz verde aos seus homens para tomar a cidade do Kuito, a fim de fazer surpresa a Savimbi, o assalto falhou por conta do desentendimento de um comandante que na “hora h” dizia não ter recebido ordens do “pai”. O cordão não funcionou e os últimos tanques que a UNITA tinham caíram no campo minado. Dizia o comandante que quando foram enviados para a missão militar receberam instruções de Savimbi que só avançariam com a sua ordem.

 

Na 16ª conferência, realizada em Abril de 2001, na nascente do rio Kunguene, no Moxico, Savimbi penitenciou-se dos erros cometidos pelo seu movimento introduzindo pela primeira vez a expressão “passivo”. Fez referências a um falecido dirigente dizendo que foi criado em sua casa como um filho. Apenas dizia em umbundo “aquele miúdo”. Não citou o nome mas pela discrição dada, os presentes da reunião concluíram que estava a falar do brigadeiro Pedro “Tito” Chingunji.


A Tia Bela, contou-nos uma vez em Washington, que a filha Panda quando era mais nova, dizia que Savimbi era seu amigo. Quando a Panda era mais nova, Savimbi ligava e falava com ela largos minutos ao telefone depois de passar instruções ao seu pai que era o representante da guerrilha na capital Americana.


Jonas Savimbi, tinha várias ocupações mas tirava tempo para saudar a criança de um dirigente do partido. Um dirigente da UNITA, dizia-me, que Savimbi gostava de filhos. Assumia todos que lhe apresentassem. Registou inicialmente com o seu sobrenome o filho do falecido comandante Waldemar Chindondo, que passou a ser durante muito tempo Pedro Sakaita “Pépé”.

 


A sua primogénita, é com a nacionalista sul-africana Stella Maunga, a mesma que trabalhou com Nkwame Kruma e Nasser do Egipto. A Nanike, nasceu no Egipto e estudou em escolas privadas na Inglaterra pagas pelo pai. Ao tempo da guerrilha, a Nanike foi, entre os filhos de Savimbi, a principal alvo do governo de Angola. Ela recusou “milhões de dólares” para falar mal do pai. Os filhos biológicos de Savimbi falam bem do seu pai. Este acompanhava de perto os seus estudos. Eles contam que o pai era muito exigente com eles. Não admitia reprovações e telefonava sempre na data de aniversário de cada um. Pedia-lhes para que estudassem alertando que o que ele tinha pertencia ao partido e ao povo angolano.


Em meados da década de 80, quando o general José Samuel Chiwale caiu em desgraça, Savimbi chamou para si, a tutela do filho deste Adriano Sapinala, e uma irmã colocando-os a viver num internato na base Kwame Kruma, ao lado dos seus próprios filhos. O filho do General Dembo, conta que da última vez que se despediu de Jonas Savimbi, nas matas do Moxico, o velho bateu-lhe no ombro dizendo “Djeff, estás um homem grande tenha força e muita coragem, não te deixes abalar com esta situação, isso vai passar”.

 

Todos estes dirigentes e jovens da UNITA tem um testemunho e vivencia muito profunda e marcante com Savimbi, dai a sua entrega total no processo das suas exéquias fúnebres. Savimbi doutrinou os militantes do seu partido a terem-no como pai. Por isso dizíamos que é necessário estudar a relação de Savimbi com os seus militantes. É de pai para filhos. Em África, um filho não mata o pai. A UNITA não “mataria” a imagem Savimbi para agradar os adversários do seu líder fundador como também o MPLA não “mataria” NETO pelas mortes no “27 de Maio de 1977”, nem a FNLA fará com Holden pelos antecedentes de Kinkunzi. Os erros destas figuras não lhes retiram os credencias de combatentes pela independência de Angola.