Luanda - A última Taça das Nações Africanas foi mais uma vez uma celebração do continente perante o desporto mais amado do planeta. Mesmo com os costumeiros problemas de organização do evento antes e durante o campeonato, tais questões não trouxeram impedimentos para que aficionados de todas as partes da África pudessem empurrar suas respectivas selecções nacionais rumo ao sonho de um título.

Fonte: Club-k.net

Na arrancada da fase de grupos, algumas equipas já se destacaram. Os times de Marrocos, Argélia e o anfitrião Egipto fizeram campanhas perfeitas, vencendo todos os três confrontos rumo à classificação para os oitavos de final. Mali e a surpreendente Madagáscar executaram a mesma tarefa, mas com duas vitórias e um empate durante a fase ao invés do triplete invicto como seus concorrentes.


Já na fase final, as surpresas ainda estavam reservadas. O Egipto, do astro do Liverpool Mohamed Salah, viu-se perder para a África do Sul por 1 a 0. Enquanto que Madagáscar e Benim fizeram mais vítimas, clamando um espaço nos quartos de final com vitórias nos penáltis sobre Marrocos e República Democrática do Congo, respectivamente.


Depois disso, tudo se “normalizou”. As selecções que já haviam sido indicadas por sites de apostas como favoritas ao título da Taça, em Senegal, Tunísia, Argélia e Nigéria, compuseram as meias de finais. E, nos cruzamentos, sobraram Senegal – liderado pelo ex-médio-campista Aliou Cissé – e Argélia, de Djamel Belmadi, para a disputa pelo título.


Num confronto raro entre dois treinadores com raízes de África na final do torneio continental, sobressaiu-se o jogo colectivo dos argelinos perante os talentos de outro astro da Inglaterra, Sadio Mané, e seus hercúleos esforços para levar Senegal a tal posição.


Para essas selecções, a Taça serviu como um bom preparo rumo às eliminatórias da Copa do Mundo do Qatar, a ser realizada daqui a três anos. Mesmo não tendo participado da última edição do torneio, a Argélia fez uma campanha histórica no Brasil em 2014 ao chegar aos oitavos de final e segurar a eventual campeã, Alemanha, em um empate sem golos na fase final do torneio. Enquanto que o Senegal, já comandado por Cissé no ano passado, por muito pouco não avançou da fase de grupos para os oitavos.


Infelizmente, este não é o caso para a já combalida selecção angolana. Como revelado em entrevista do presidente honorário da Federação Angolana de Futebol, Armando Machado, os problemas passados são muitos: desde a falta de organização e de prémios até a inexistência de escolas de preparo de novos talentos dentro de Angola.

Este último ponto, sobre os problemas com a formação de jovens jogadores no país, talvez seja para onde a maior atenção deve ser trazida. Ainda que no continente haja nações que enfrentem problemas semelhantes aos de Angola e que acabem contando muito com o “auxílio” da formação de jogadores de outros países (como as ex-colónias francesas), eles ainda contam com uma rede de criação de promessas interna que faz nascer excelentes talentos.


A própria Argélia pode servir como exemplo. Um dos maiores talentos em tempos recentes da selecção, o versátil Youcef Atal, que pode jogar tanto de lateral quanto de extremo nos dois lados do campo, é um jogador nascido e germinado nas categorias de base do país. Suas excelentes habilidades com e sem a bola lhe garantiriam nesta actual janela de transferências na Europa um espaço em um dos grandes clubes do continente, não fosse por uma lesão infortuna antes de rumar para a Taça das Nações Africanas.


Hoje, a selecção angolana não conta com o “luxo” de ter um fluxo de novos jogadores vindos nem de diásporas nem de estruturas internas. E, caso as ambições da FAF sejam de recolocar o time no páreo de disputar vagas para Copas do Mundo e afins, seu trabalho deve começar daí. De baixo para cima.