Luanda - Os anos 50, advento dos ventos da libertação dos povos que se encontravam debaixo do sistema esclavagista, influenciou como se de uma epidemia fosse a todos os angolanos, que se reviram no projecto de luta para a Independência, consentindo os maiores sacrifícios e, em alguns casos, a sua própria vida.

Fonte: Club-k.net


Toda a preparação e mobilização decorria no mais alto e restrito sigilo, por quase todo o território, não obstante os esforços de repressão e vigia empreendidos pelos serviços da polícia secreta colonial, nós resistimos… e continuámos a resistir até ao 25 de Abril de 1974. Foi o ponto de viragem, o acender da luz da esperança para todos os combatentes pela Independência.

Iniciámos uma nova etapa e os nossos olhos, queriam ver a Independência, os nossos ouvidos queriam ouvir a independência; os nossos estômagos queriam comer a Independência! Esta palavra soou aos ouvidos do sistema colonial como um grito de guerra, um grito de vingança, um grito de recuperação do que nos havia sido negado há largos séculos. O colonialismo agonizava, até a dia em que o colono bate em retirada. O povo inicia então uma destruição massiva e vertiginosa dos vestígios da presença colonial; primeiro junto do seu habitat onde o sistema colonial os havia acantonado e, a posteriori, inicia a apropriação do que considerou serem troféus de guerra deixados pelos colonos (casas, propriedades, meios de produção, fazendas, etc, etc…). A frenesia causada pela tão ansiada Independência apoderou-se de todo um povo finalmente liberto da opressão.


A euforia era tanta, que nos esquecemos de preparar o amanhã, que já era ontem, e este amanhã, já é agora! O Povo angolano continuou eufórico e deixou os seus destinos nas mãos dos “mágicos” que terão aprendido a “arte de governar”, frequentaram as melhores escolas no exílio, de onde trouxeram pomposos “diplomas de ouro” com títulos de mestres, PhD’s, enfim… os “iluminados” e os verdadeiros patriotas (somente eles). Chegaram com a lição bem estudada, de como ter sempre o povo ao seu lado, e como desacreditar os que se levantassem contra eles. À estas vozes (de homens e mulheres) discordantes rapidamente foram “marcados” e estigmatizados com a sigla de inimigos da revolução, inimigos do bem-estar desta nova classe de “iluminados” e de toda a Nação (segundo os critérios dos novos mestres da Angola), e como tal, condenados ao ostracismo ou pior, eliminados com a pena capital (27 de Maio de 1977);

Feita a limpeza dos opositores, os “mágicos” e “iluminados” tomaram o controlo da economia, fizeram-se congressos para distribuir as “receitas” de como todos participariam nas deliberações partidárias que serviriam para legitimar os conhecimentos adquiridos e justificar a aplicação dos seus maquiavélicos planos trazidos da África do Magreb, cujo princípio assentava no seguinte: Nós os mágicos ficamos só no controlo da Economia e do poder Judicial; tudo o mais, o poder político, o poder militar e o poder Legislativo é para os que representam o poderzito da maioria silenciosa e domesticada.

E eis-nos então na encruzilhada em que nos encontramos, caracterizada por uma maioria (o povo) sem recursos para sustentar as famílias, dar instrução e formação aos filhos, tratar da saúde, ter insumos para cultivar a terra e desenvolver empreendimentos que gerem e tragam riqueza, sabermos negociar para que as riquezas naturais quando comercializadas revertam efectivamente em benefício da maioria. Volvidos 44 anos desde 11 de Novembro de 1975 o balanço é indiscutivelmente catastrófico. Os “mágicos” acorrentaram-nos os pescoços e trazem-nos arrastados e atrelados aos seus pés!

Para muitos da geração dos anos 40 que vivenciaram o fim da Segunda Guerra mundial, que assistiram ao fim da escravatura colonial no mundo (África e Ásia), que acompanharam a luta anti-racial nos EUA, que viveram o surgimento das Independências em África e na Ásia, que testemunharam o surgimento do Pan-Africanismo, os ideias da Independência para esta nova Angola que se desejava para todos, foram temperados através das leituras de “ Na Pele de Um Negro, “A Guerra das Bananas”, “Não Matem a Cotovia”, “O Testamento Sobre a Forca” (de Julius Fucik); outros ainda forjaram a sua consciência moral, política e social através dos preceitos emanados da santa “ PALAVRA” trazendo à luz o contributo não menos heroico de milhares de membros das congregações religiosas de Angola em prol da luta de Independência.

Vimos tombar grandes Homens em África que, sozinhos, não resistiram à monstruosidade da supremacia branca e do dinheiro que corrompeu os corações e mentes dos tantos africanos utilizados como algozes de seus próprios irmãos negros, deixando-nos à todos órfãos de Patrice Lumumba, Marien Ngouabi, Murtala Mohamed, Sylvanus Olympio, Amílcar Cabral, Ahmed Ben Bella,Tomas Sankhara, Steve Biko… a lista é interminável!


Estes “mágicos” continuam a dominar, e todos os dias que conhece esta Angola pós 75, eles seguem utilizando as mais sofisticadas maneiras e ardis para mascarar as suas brutalidades, arrastando todo um povo para uma situação de total desencanto e descrédito que bem se resume nesta máxima: “Só mudaram os macacos, mas a selva continua a mesma”!

Não busquem a corrupção como o réu primeiro, pois antes, ofereçam-se os corruptores a serem julgados pelas inverdades que sempre apregoaram aos “libertados”; sejam verdadeiros e revelem o que sempre andaram a esconder ao vosso Povo! Ainda vão a tempo.

Falem do destino que foi dado aos irmãos Matias Miguéis, ao Ratinho….O porquê do suicídio a que foram empurradas as hoje Heroínas (Deolinda e as suas companheiras)?

Porquê suicidaram o Comandante Ndozi, obrigando-o a beber o veneno preparado por vós! Porquê mandaram o General Monymanbo para o Alto mar, sem salva-vidas, sem bússola e sem mantimentos? Senhores “Mágicos”, lembrem-se: Todos iremos passar, mas a História continuará a ser contada para todas as gerações desta martirizada Angola! Ass: Amâncio de Queiróz (Jornalista independente)