Luanda - Os esforços da bióloga Adjany Costa na conservação da água e da biodiversidade em Angola fizeram com que fosse a vencedora do Prémio Jovens Campeões da Terra para África, atribuído pelas Nações Unidas. "É uma forma de mostrar que existe um mundo de conservação em Angola", reage a cientista.

Fonte: Lusa

O trabalho que a bióloga Adjany Costa, de 29 anos, tem desenvolvido com a comunidade Luchaze, nas terras altas do leste de Angola, na conservação de pontos preciosos de água e de biodiversidade no país foi distinguido pela ONU. A angolana é a vencedora do Prémio Jovens Campeões da Terra para África, atribuído pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) a jovens ambientalistas entre os 18 e 30 anos, pelos seus esforços na proteção do meio ambiente.

 

Um reconhecimento importante, reconhece a bióloga e investigadora angolana, para continuar a desenvolver o seu projeto, através do qual trabalha com as comunidades locais do rio Okavango para conservar a vida selvagem e os ecossistemas.

 

"A importância de receber essa distinção vai além do meu trabalho. É uma forma de mostrar que existe um mundo de conservação em Angola para além daquilo que é falado, para além daquilo que é institucional", disse Adjany Costa em entrevista à ONU News.

 

Para a cientista angolana, o prémio que recebeu das Nações Unidas dá visibilidade ao que está a ser desenvolvido nas áreas mais remotas do planeta. "Especificamente para o meu trabalho é uma forma de mostrar que, mesmo nas áreas remotas, temos tido alguma atenção.E é sempre um apoio, porque este não é um trabalho fácil. É um trabalho que requer motivação, que requer uma certa visibilidade para podermos continuar."


Qual é o trabalho que a bióloga faz em Angola?

Adjany Costa trabalha com as comunidades Luchaze nos planaltos do leste angolano, ameaçadas por práticas insustentáveis de subsistência após a guerra civil de três décadas do país, como o desmatamento da floresta de Miombo, depois que as minas terrestres foram removidas, explicam as Nações Unidas.

 

À medida que as comunidades regressam à terra, é fundamental proteger a floresta de Miombo, que retém água e nutre a biodiversidade, acrescenta o programa ambiental da ONU.

 

"É basicamente a introdução de workshops, de conversas e de alternativas de vida para poder ativar a conservação como forma de melhorarem as suas vidas e de terem um incentivo económico para que sejam eles próprios a fazerem a conservação da sua própria terra", especifica Adjany Costa.

 

E este trabalho que tem desenvolvido junto das comunidades locais vai além da conservação do meio ambiente. "Envolve uma série de atividades de empoderamento que lhes permite ter uma voz, uma voz que eles sentem que perderam durante 27 anos de guerra civil", afirma a cientista angolana.

 

Bióloga participou numa expedição científica à bacia do rio Okavango que deu origem a um documentário que está nomeado para os Emmys 2019
Um projeto que Adjany Costa considera "importante", "mesmo para quem não quer saber da natureza", diz. "Tem uma importância económica e política muito elevada, principalmente neste novo mundo que fala muito de ecoturismo", realça.

 

É, sobretudo, fundamental para assegurar um futuro sustentável para as próximas gerações. "É ainda mais importante para a sobrevivência destas comunidades, que dependem 100% do ambiente que os rodeia. Sabendo que daqui a algumas décadas os seus filhos não vão ter forma de se sustentar, que é o que eles dizem, eles têm noção disso, é importante que eles estejam envolvidos para proteger o seu próprio futuro".

 

A bacia do Rio Okavango é um ecossistema vital e parte da maior zona húmida de água doce do sul da África. Mais de um milhão de pessoas dependem desta fonte de água. A bacia é compartilhada por Angola, Namíbia e Botsuana.

 

Desta fonte preciosa de água depende também a vida selvagem, incluindo uma das maiores populações de elefantes do mundo. É por isso fundamental manter os níveis de água é fundamental para a manutenção de todo o ecossistema.

 

"Proteger a saúde dos nossos ecossistemas e de locais selvagens remanescentes até 2050 é vital para a nossa sobrevivência e para um futuro sustentável", afirmou Inger Andfersen, diretora executiva do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente.

 

Conheceu a comunidade Luchaze numa expedição científica ao rio Okavango

 

O primeiro contacto de Adjany Costa com a comunidade Luchaze aconteceu quando fez uma expedição científica à bacia do rio Okavango, ao longo do rio Cuíto. Durante quatro meses, percorreu cerca de 2,5 mil quilómetros. Além de Angola, passou por Namíbia e Botsuana.

 

A bióloga é a diretora para Angola deste projeto sobre o Okavango da National Geographic, desenvolvido em conjunto com a organização Wild Bird Trust e o Ministério dos Ambiente angolano.​​​​​​

 

A expedição científica deu origem ao documentário Into the Okavango, realizado por Neil Gelinas, da National Geographic. O filme estreou no ano passado e está nomeado para um Emmy na categoria de melhor documentário sobre a natureza.

 

Premiados recebem financiamento

 

Adjany Costa esteve em abril em Portugal, na National Geographic Summit, no Coliseu dos Recreios em Lisboa e falou da sua experiência na expedição retratada no documentário, que mostra momentos de desespero, sustos, mas também muitas lágrimas de alegria.

 

"Temos potencialmente 24 espécies novas para a ciência, que estão agora em fase de estudo",disse a cientista angolana. Além da diversidade da fauna, detetaram 16 novas nascentes: "Aquela área é rica em água e é a torre de estabilidade tanto do Cubango/Okavango como do Zambeze", explicou Adjany Costa.

 

O Prémio Jovens Campeões da Terra distinguiu sete empreendedores de África, da América do Norte, da América Latina e Caribe, da Ásia e Pacífico, da Europa e da Ásia Ocidental, que vão receber financiamento, orientação e apoio de comunicação para ampliar os seus esforços na proteção do ambiente.

 

A cerimónia de entrega dos prémios Campeões da Terra vai decorrer em Nova Iorque, no dia 26 de setembro, coincindindo com a reunião anual da Assembleia Geral das Nações Unidas e a Cimeira de Ação Climática.

 

O júri selecionou os vencedores do prémio entre 35 finalistas regionais de mais de mil candidatos.

 

O prémio é atribuído pelo Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente e a Covestro, uma das maiores empresas de fabricantes de plástico do mundo.