AO
SENHOR GOVERNADOR DA PROVÍNCIA DO CUANDO CUBANGO


DIREITO DE RESPOSTA DA ENTREVISTA DO GOVERNADOR JÚLIO BESSA, FEITA NA RÁDIO NACIONAL DE ANGOLA À VOLTA DA MATÉRIA SOBRE AS CONDIÇÕES SOCIAIS DEGRANTES DOS KHOINS NO CUANDO CUBANGO.


Há dezoitos anos, o governo do Cuando Cubango e as Organizações não Governamentais Nacionais desenvolvem na Província, uma série de acções sociais visando a socialização do grupo etíno linguistíco kamussequeles.

Entre os projectos desenvolvidos, destaca-se a construção de habitações, escolas e postos de saúde nas localidades de Bundo, Tandawe, Jamba Kueio, Samaria concretamente nos municipos de Menongue, Cuangar e Cuito Cuanavale, bem como a instrução para as práticas da produção de bens de consumo, por via do cultivo de milho, massango, massabala e mandioca, produtos que se adaptam com facilidade na região do Cuando Cubango.


O país conta com pelo menos, (12) Doze mil Kamussequeles, sendo que um universo de (7) Sete Mil Khoinsas se encontra no Cuando Cubango. Muitos destes experimentam com sucesso o processo de socialização, baseado na sua sedentarização. Hoje, poucos recorrem a recoleção e a caça, já que abraçaram seriamente o processo de reintegração em curso, começado pelo executivo angolano, e que tem sido assegurado pelas organizações não governamentais nacionais locais, nomeadamente a Mbakita e a Aacadir financiadas com fundos das embaixadas dos Estados Unidos de América, Alemanha através do Open Society.


O problema que se coloca entre as comunidades San é a falta de atenção por parte das instituições do governo local e central, que deveriam de forma contínua prestar apoios técnicos que permitiriam a curto, médio e longo prazo a independência económica deste grupo vulnerável.


Para o kamusequele António Luciano Cassanga, professor da comunidade San há trinta e dois anos, faltam charruas de tracção animal com o objectivo de tornar sustentável o trabalho no campo.


Daí que o nível de pobreza continue a ser extremo, não só entre os Khoisans, como também nas comunidades Bantu.


Senhor governador Júlio Bessa, entenda que a situação económica e social das populações do Cuando Cubango já não se compadece mais com o proteccionismo de cores político-partidárias, não fique mais preso nos discursos descabidos, que há mais de 18 anos só enchem os sacos de promessas da população sem referências de actos concretos.


Aliás, o senhor, que sempre fez parte da governação neste país, sabe perfeitamente que os chamados programas de descentralização administrativa e financeira que há 7 sete anos se desenvolvem nos municípios, alegadamente para o combate a pobreza, e que até finais do ano de 2017 consumiam o equivalente a (5) milhões de dólares americanos por mês, sem mencionar os outros 2 milhões dois de dólares americanos destinados aos cuidados primários de saúde, foram um grande fiasco no Cuando Cubango. Se for mentira, prove o contrário.


Até porque o senhor governador visitou recentemente as sedes municipais de Nancova, Cuangar, Calay, Dirico, Rivungo, Mavinga, Cuchi e Cuito Cuanavale, diga, ao certo, em público e em tom de verdade o que de especial encontrou que alimente as esperanças desses pacatos cidadãos?


Como economista de renome neste país, acha que os níveis de execução de programas de combate a pobreza nos municípios respondem ao volume financeiro de 60 milhões de dólares americanos gastos em cada ano numa circunscrição?


Como se não bastasse, no âmbito do aludido programa de descentralização finaneira e administrativa, as administrações municipais passaram, a partir do mês de Janeiro de 2018, a consumir 25 milhões de Kwanzas. Matematicamente, já estamos a caminho de 24 meses. Ora 24 a multiplicar por 25 milhões de kwanzas é muito dinheiro para nada feito.


Parem de fazer tempestade no copo de água, procurem governar com seriedade, porque transparência somente existem em termos gramaticais. E nada de réplicas banais, porque saiu pessimamente na fotografia ao tratar como estúpidas as pessoas que só querem ajudar. Lembre-se que está a governar um povo martilizado e que exige o vosso respeito.

Para isso, coloco-lhe o desafio de responder a questões como:

O que entende por pobreza?

Será que as condições em que vivem esses khoinsas já socializados, e não como nativos do Amazonas, são para si satisfatórias?

Orgulhem-se pelo nível de pressão social, pois representa simplesmente alerta de que vocês precisam para saírem da vossa zona de conforto, e sem ambiguidades, responderem as necessidades de todos cidadãos, gizando prioridades face aos problemas prementes que se vivem.


Acredite que foi uma pouca vergonha ouvir o senhor governador a comparar os kamussequeles aos índios da Amazona. É lastimável ouvir de um governante com o seu cariz, pronunciamentos baixos e absurdos perante a realidade dos Kamussekele que é tão nua e crua.


Procure cumprir com as palavras do presidente da República João Manuel Gonçalves Lourenço segundo as quais, cito: “Os dirigentes devem ser receptivos às críticas construtivas”. Fim de citação.


Porque, se o senhor governador achar que a publicação feita à volta dos Kamuusequeles é uma difamação ou calúnia, leve o caso aos órgãos de justiça, responsabilize criminalmente os autores desta divulgação. Espero que tenha coragem para tudo isso.


Aqui há um provérbio em Ganguela que diz o seguinte: o palhaço só bate nas pessoas da plateia por causa da vergonha.


Vocês os dirigentes não podem ser como o palhaço, que só reagem para serem temidos


Esperamos que não tenhamos sido mal-entendidos, já que estamos a referir-nos essencialmente a programas de inclusão social e não de exclusão.


Lembrar que no balanço que fez das visitas ao interior da província mencionou uma série de dificuldades.


Como pode descartar a não existência de extrema pobreza entre as comunidades que visitou, sem se referir a um grupo vulnerável, e em perigo iminente de extinção, como é o caso dos Khoisans.


Menongue 21 de Outubro 2019.

O CIDADÃO
FRANCISCO DE ALMEIDA CHICOTE