Luanda - No passado 12 de Dezembro de 2019, a direcção da Rádio França Internacional anunciou em reunião com membros da redacção África lusófona a supressão até 2021 de 30 postos de trabalho, entre os quais 20 nas antenas em Árabe e uma dezena de outros repartidos entre o serviço África lusófona e a redacção anglófona da RFI.

Fonte: Club-k.net

No respeitante à secção lusófona, a direcção da RFI especificou que poderiam ser despedidos 2 ou 3 jornalistas num total de 8 jornalistas estatutários, ou seja uma parte significativa da equipa. Isto obrigaria este serviço a sofrer uma reorganização que implicaria o provável desaparecimento das suas antenas rádio, o que a prazo significa a morte da RFI em português para África.

Segundo a direcção da RFI, as tutelas pediram à chefia da France Médias Monde (grupo no qual está inserida a RFI) que se poupasse cerca de 20 milhões de euros até 2022.

Questionada sobre a opção de “cortar” nas emissões de língua inglesa e de língua portuguesa, em vez de propor um plano de despedimentos aberto a jornalistas de outros serviços que poderiam pretender desvincular-se da empresa, a direcção da RFI argumentou que a presidente da FMM desejava operar uma "transformação".

Esta "transformação" consistiria em juntar os jornalistas que sobrassem dos serviços de língua inglesa e portuguesa num grande hub Internet para África juntamente com os seus colegas do serviço África em francês. Cada conteúdo produzido neste hub seria "adaptado" nas respectivas línguas.

De acordo com a direcção da RFI, esta reforma deveria igualmente implicar o corte das antenas rádio dos anglófonos e muito provavelmente dos lusófonos, “uma vez que o número de jornalistas na equipa seria demasiado reduzido para continuar a assegurar simultaneamente emissões e fornecer conteúdos para a página internet”.

No respeitante às possíveis parcerias entre a RFI e Angola bem como Moçambique, a direcção da RFI disse que este assunto tinha sido abordado com as respectivas autoridades desses países, mas que "não tinha havido retorno ". Sobre Angola, argumentou ainda que "custa muito manter uma FM lá".

Este projecto está a ser discutido em reunião de informação do Comité Central de Empresa esta quarta-feira, isto devendo igualmente ser apresentado amanhã na reunião do Comité Social e Económico. Alguns dos pontos na ordem do dia da reunião desta quinta-feira são “informação acerca do calendário do plano de partidas voluntárias em consequência das orientações estratégicas” e “informação para consulta sobre o projecto de orçamento de France Médias Monde para 2020”.

Sindicatos representativos dentro da FMM têm apelado à greve e esta semana e convidam os funcionários da Rádio a concentrar-se junto da sala onde deve decorrer a reunião de amanhã às 14h45.

Como funcionam as emissões da RFI para África lusófona?

Funcionam com 8 jornalistas estatutários, 4 freelancers, 6 correspondentes regulares nos países para os quais emite e 3 técnicos.

A RFI transmite em português para países africanos de língua portuguesa, Cabo Verde, São Tomé e Príncipe, Guiné-Bissau, Angola e Moçambique. Essas transmissões diárias repartem-se por períodos de meias horas, às horas certas, às 17, 18, 19 e 20 horas, no horário de inverno (18, 19, 20 e 21 horas, no verão).

Essas meias horas são organizadas da seguinte maneira:

De segunda a sexta-feira, 10 minutos de jornal, 8 minutos de convidado ou reportagem, 4 a 5 minutos de revista da imprensa, 5 a 6 minutos de rúbrica (“desporto” na segunda-feira, “ciência” na terça-feira, “artes” na quarta-feira, “vida em França” na quinta-feira, “economia” na sexta-feira).

No sábado, 6 minutos de jornal, 4 minutos de revista de imprensa semanal, 8 minutos de "semana na África" ​​e, em seguida, são programadas uma redifusão de um das rúbricas da semana e a “lição de francês”.

No domingo, 6 minutos de jornal, 8 minutos de "semana dos convidados" ​​e, em seguida, são programadas a redifusão de duas rúbricas da semana e a “lição de francês”.

Além das emissões de rádio, o serviço de língua portuguesa para África da RFI também alimenta uma página internet, uma página no Facebook e uma conta no Twitter. Cada conteúdo de rádio é publicado na internet pelo jornalista que tratou a respectiva notícia.

Como são ouvidas as antenas da RFI em português?

Em Moçambique, a antena de rádio é muito ouvida, em Maputo na FM, nas restantes regiões em ondas curtas e, para os poucos ouvintes que têm essa possibilidade, na internet.

Há pouco mais de uma década, a RFI em português também podia ser ouvida na FM fora de Maputo, graças às parcerias que mantinha com estações de rádio locais, principalmente em Nampula e Beira. Por decisão da direcção daquela época, porém, essas parcerias foram abandonadas.

Apesar disso, a RFI continua a beneficiar de uma grande credibilidade junto dos seus ouvintes. Há alguns meses, a direcção da RFI abordou juntamente com o embaixador de Moçambique em França, pistas para eventuais parcerias.

Em Angola, apesar da ausência de FM, a antena RFI em português é muito ouvida em diferentes pontos do país em ondas curtas. Em Luanda, os ouvintes têm vindo a acompanhar cada vez mais as emissões através da internet.

Também neste país, a RFI é encarada como sendo uma fonte importante de informação, ao ponto de se equacionar pela vez a possibilidade de estar presente em FM.

Na Guiné-Bissau, a RFI em português é a rádio mais ouvida. Dado que as suas transmissões cobrem todo o território e que a Internet ainda é de difícil acesso, a rádio continua a ser a forma privilegiada para ouvir as emissões da RFI. Em termos de hábitos de "consumo" de informação, a rádio está amplamente à frente dos jornais, da Internet e da televisão.

Em São Tomé e Príncipe assim como em Cabo Verde, a RFI é muito ouvida. A rádio também nesses países continua a ser a forma preferida para ouvir as emissões da RFI, uma vez que chegam aos ouvintes pela FM.

No entanto, nos últimos meses, as transmissões da RFI em português para Cabo Verde deixaram de cobrir a totalidade do território e concentram-se apenas em algumas ilhas.

Há vários anos que a direcção da RFI está a cortar gradualmente os programas de rádio em línguas estrangeiras para apostar tudo na internet, o que na maioria dos casos equivale à morte pura e simples dessas redacções.

Porém, nem todos os países se encontram no mesmo patamar em termos de implantação da internet e hábitos de consumo de informação pela internet. De modo geral, o meio de informação privilegiado continua a ser a rádio e, nesse contexto, a RFI é encarada, não como uma rádio à margem, mas pelo contrário como um meio importante de informação, profundamente enraizado nos hábitos de escuta dos ouvintes.

Encerrar as emissões de rádio da RFI em português para se concentrar apenas na internet significa a morte deste serviço.