Luanda - Ainda na ressaca da emissão das novas séries de notas do Kwanza, justificados pela autoridade monetária como uma medida necessária visando a racionalização e gestão de custos para a sua manutenção, uma vez que despendia anualmente Trinta Milhões de Kwanza, e o período de manutenção era muito curto de dois anos. As negociações para emissão das novas séries prevêem uma extensão do prazo de manutenção passando de dois para quatro anos com mesmo custo financeiro de manutenção para a circulação das moedas.

Fonte: Economia & Finanças

Outro elemento fundamentado prende-se com aumento dos dispositivos de segurança para as novas séries, o que tornará mais fiável a circulação de moeda no país. Independentemente das razões políticas do Executivo ou de índole administrativa do Banco Nacional de Angola, não podemos esquecer que o objectivo primordial da política monetária de qualquer Banco Central, reside na melhoria ou manutenção da estabilidade de preços e controlo da oferta de moeda, promovendo o crescimento económico e criação de emprego. Para alcançar este desiderato, procura-se a optimização ou equilíbrio entre a oferta de meios de pagamento a partir dos agregados macroeconómicos e o crescimento da actividade económica.

 

A previsão inflacionária do Executivo para o ano 2020 é de 25%, tendo em conta o ajustamento dos tarifários em curso, transfere para a autoridade monetária a pressão para a estabilização do nível de preços na economia, e a respectiva taxa apresenta-se elevadíssima para os padrões da nossa moeda nacional “Kwanza”. Os receios sobre a eficácia do BNAem controlar a sua variável operacional da política monetária são evidentes, a gestão de liquidez através da expansão ou contracção dos agregados monetários em função das necessidades do mercado, visando o controlo da inflação deve ser rigorosa.

 

A inflação representa um dos maiores cancros da economia angolana, tendo em conta os seus efeitos colaterais como o seu poder de destruição de riqueza, distorção dos preços relativos, dificulta o planeamento de médio e longo prazo, desestimula os investimentos, diminui o poder de compra, em suma piora a qualidade de vida dos cidadãos.

 

A definição convencional da inflação como subida contínua e generalizada dos preços durante um determinado período, em termos analíticos representa uma diferença entre a variação positiva da liquidez macroeconómica e a variação negativa no produto, ou seja, segundo os monetaristas a quantidade de dinheiro em circulação deve ser proporcional à quantidade de bens e serviçosnuma economia. De acordo com o economista da escola de Chicago Milton Friedman“a inflação é sempre e em todo lugar um fenómeno monetário”. Os riscos do descontrolo da inflação são iminentes, não apenas pela pressão dos preços que atormentam a economia angolana, mas também pelo facto da política monetária apresentar sinais de imprudência com a emissão de novas notas do Kwanza, num cenário de reformas estruturais em curso, ao abrigo do Programa de Financiamento Ampliado (ExtendedFundFacility), com auxílio do FMI objectivando tirar o país da recessão económica e corrigir os desequilíbrios na balança de pagamentos.

 

Nesta fase, a manutenção ou melhoria das metas inflacionárias alcançadas, devia ser um objectivo prioritário da política monetária, uma vez que o nosso país possui um histórico inflacionário vergonhoso e preocupante, se analisarmos a década em que atingiu os níveis incontroláveis de hiperinflação, chegando mesmo atingir patamares de 1837,7% em 1993 e 3784% em 1995 conforme o gráfico abaixo ilustrado.

 

A década da hiperinflação na economia angolana, foi estabilizada num ambienteconjuntural favorável da economia internacional, especificamente o sector petrolífero, a redução dos níveis alarmantes de inflação não foi alcançado mediante a utilização medidas económicas estruturais versados para o ajuste fiscal e consolidação orçamental, muito pelo contrário, o valor da moeda nacional foi preservado de forma artificial com a utilização das receitas extraordinárias do sector petrolífero (petrodólares), levando o estado a incorrer encargos elevadíssimos que permitiram a sobre valorização do Kwanza.

 

A descoordenação das políticas monetárias e fiscais e a dificuldade no controlo dos agregados monetários, levou o país para a década da hiperinflação que desestabilizou completamente a política monetária, onde passamos do Kwanza reajustado para novo kwanza, foi uma fase de trocas constantes da moeda em que até para comprar pão era necessário levar saco de dinheiro. Este foi o período económico mais drástico da economia angolana em que o cidadão dormia rico e acordavas empobrecido, e foi esta etapa responsável pelainédita e maior destruição de riqueza ocorrido no país que nenhum angolano sente o prazer de reviver.