Lisboa – Está a criar mal estar, em meios do regime angolano, o anuncio feito pelo canal português TVI de que exibiria no “programa Ana Leal”, uma reportagem sobre escândalos de corrupção envolvendo ministros do actual governo de João Manuel Gonçalves Lourenço.

Fonte: Club-k.net

Assessores de ministro lançam  contra ofensiva nas redes sociais

A exibição estava prevista para terça-feira (10), e quarta-feira (11), mas a TVI viu-se forçada a adiar para data posterior para poder dar cobertura ao tema do “corona vírus” que segundo apurou o Club-K, esta a consumir cerca de 80% dos principais espaços de noticias das cadeia de televisão lusa.


“O programa Ana Leal foi adiado face a um possível agravamento do surto de coronavirus. A situação que o país vive nesta altura vai mecer destaque ao longo do dia na TVI e TVI 24. Por isso mesmo, a emissão das reportagens de investigação vai ser adiada”, lê-se num anuncio nas redes sociais feito pela dona do programa, a Jornalista Ana Leal.


Segundo apurou o Club-K de fonte ligada ao tema, a reportagem aborda negócios de uma rede de negócios de dirigentes que gravitam a volta do diretor do gabinete presidencial, Edeltrudes Maurício Fernandes Gaspar da Costa, que se tornou no ministro que mais influencia passou a ter sobre a figura do Chefe de Estado angolano, João Lourenço que o tem perdoado dos seus sucessivos escândalos. Costa passou a ser tratado em Luanda, por “o novo Kopelipa”.


A reportagem de Ana Leal, trás os meandros de um apartamento em cascais que a sua ex esposa Arite Faria comprou por €2,5 milhões, em Maio de 2017, um mês depois de receber “milhões “ de uma conta de Edeltrudes, ao tempo Secretario Geral da Presidência da República.


A reportagem aborda negócios de familiares de um outro ministro, Águas, João Baptista Borges que responde pela pasta da Energia e Águas desde o governo de José Eduardo dos Santos. Com interesses em comum, com Edeltrudes Costa, o titular Energia e Águas é citado na reportagem parte interessada em transações em Off-Shores (Valoris International Services e Mundideias) que depois são usadas para transferências de dinheiros para Portugal.

A TVI cita um prédio (na rua D. Manuel II, números 28 a 30, na cidade do Porto) comprado por 7 milhões de euros por parte de Paulo Ivanilson Cabral Borges, o filho do ministro angolano da Energia e Águas.


Para além dos negócios do filho, a reportagem menciona Ana Borges, a mulher do ministro que por sua vez é sócio da empresa Megawatt, que presta serviços a ENDE, empresa estatal de electricidade que teve no passado João Baptista Borges como PCA. Entre 2011 e 2012 a “Megawatt” recebeu contratos de euros 329 mil com a Ambergol, uma empresa que tem contratos com este departamento ministerial cujo titular é o esposo, Borges.


O Programa “Ana Leal” trará também o exemplo da Marketpoll empresa detida por Paulina Cardoso, a esposa do actual Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil do Presidente da República, Frederico Manuel dos Santos e Silva Cardoso. A Marketpoll recebeu em 2017, 4 milhões de euros do MPLA por serviços como “pesquisas qualitativas e quantitativas” .


Para além de Carla Cardoso, a Marketpoll tem uma outra sócia Telma Tiago, esposa de Adriano Botelho de Vasconcelos, membro do Conselho da República e um dos melhores amigo do Presidente João Lourenço.

 

Reações: Assessores dizem tratar-se de um ataque sistemático

Em reação a reportagem, assessores informais do governo defendem-se dizendo que trata-se de um “ataque sistemático ao ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges, ao director do Gabinete do Presidente da República, Edeltrudes Costa, e ao Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil, Frederico Cardoso, visa somente desencorajar João Lourenço a prosseguir com a luta de todos os angolanos: o combate à corrupção.”

 

Um texto difundido de forma antecipada por quadros do MPLA, nas redes sociais e assinado com um falso nome “Emanuel Kadiango”, considera que “a campanha contra o Governo angolano, protagonizada pela imprensa portuguesa, só surpreende os incautos políticos, desprovidos de senso crítico sobre os acontecimentos que se lhe apresentam entre voz, luz e cores, sob pretexto de investigação jornalística isenta.”

 

No ponto de vista do texto “O ataque sistemático ao ministro da Energia e Águas, João Baptista Borges, ao director do Gabinete do Presidente da República, Edeltrudes Costa, e ao Ministro de Estado e Chefe da Casa Civil, Frederico Cardoso, visou somente desencorajar João Lourenço a prosseguir com a luta de todos os angolanos: o combate à corrupção.”


Assessores de Ministro culpam ex- sócio português


“João Baptista Borges, ministro que transitou do governo anterior, um quadro do sector de energia com provas dadas, tem a cabeça a prémio por ter travado uma tentativa de burla ao Estado angolano. O artista é Ricardo Machado, dono de uma folha de serviço recheada de aventuras de desonestidade, que, a qualquer altura, pode ser constituído arguido.” Lê-se na contra ofensiva  assinada por “Emanuel Kadiango”, mas que fontes em Luanda alegam ter recebido de elementos ligados ao porta-voz da presidência angolana, Luis Fernando.

 

Num outro texto de contra ofensiva, os seus autores voltam a apontar o dedo ao empresário Português Ricardo Machado pelas fugas de informação enquanto outros apontam responsabilidades a uma das filhas do antigo Presidente José Eduardo dos Santos.

 

Com negócios no ramo da energia, Ricardo Machado é o empresário português que deixou de ter ligações ao ministro João Batista Borges na sequencia de desentendimentos e trocas de acusações mutuas de deslealdade. É sócio da empresa “AEnergia” na qual o ministro da energia e aguas fazia-se presente por um sobrinho e “testa de ferro”, Ricardo Jorge Borges.

 

“Angola Pais com bastante potencialidade em recursos hídricos, e que até então tinha o sector da energia electrica grandemente dependente de um grupo dominador, não deve em momento algum recuar perante informação perniciosa e claro visa atingir quem de igual forma decidiu combater a corrupção no sector da Energia e Água”, lê-se na mensagem em defesa de Baptista Borges posta a circular por assessores informais.

 

Para os alegados assessores, o ministro angolano da Energia e Água tem sido vitima de ataque mundial por ser contra a corrupção em Angola. “João Baptista Borges, após denunciar os contratos que lesavam o estado em biliões de doláres tem sido vitima de ataques e até de desinformações para recuar na busca contínua dos contratos lesivos ao Estado e quase dar a entender ao Presidente João Lourenço que o mesmo deve ser afastado”.

 

Presidente João Lourenço sozinho na luta contra corrupção

 

De lembrar que desde a ascensão de João Lourenço ao poder foram registradas sinais de reformas e abertura política em Angola. Porém, vários analistas tem notado que o líder angolano esta praticamente sozinho nesta cruzada contra a corrupção, uma vez que alguns dos seus ministros tem sido mencionados em escândalos de praticas que lesam os cofres do Estado.

 

O mesmo distanciamento na luta contra corrupção do líder é notado em sectores do MPLA, cuja bancada parlamentar conferiu no mês passado, a posse de um antigo Juiz Manuel Pereira da Silva “Manico” para conduzir os destinos da Comissão Nacional Eleitoral. Contra “Manico” corre no Tribunal de Luanda um processo em que o menciona como tendo recebido indevidamente fundos públicos do antigo Governador de Luanda, Higino Carneiro.

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