Washington  – Uma equipa de técnicos da Inspecção Geral da Administração do Estado (IGAE), que está a concluir relatórios sobre gestão das redes diplomáticas angolanas no exterior, reuniu evidências de que os consulados de Angola em Lisboa e na cidade do Porto terão incorrido em práticas de sobre-facturação ao assinarem contratos  com uma  empresa “fantasma”, GALACTITÁTICA, UNIPESSOAL, LDA, para instalação de câmaras de vigilância e alarmes nas suas instalações.

Fonte: Club-k.net

Empresa com o mesmo serviço cobra apenas  180 euros 

Depois de ter sido nomeado como Cônsul Geral de Angola em Lisboa, em 2017, o diplomata Narciso Espirito Santos Júnior contratou a GALACTITÁTICA para instalação de um sistema de alarmes no Consulado de Angola, que permite ter o registo de actividades no interior da instituição sobretudo em caso de assalto ou outra anomalia. O contrato, para a manutenção das câmaras e dos alarmes é de 12 mil euros por mês.

 

No seguimento de uma denúncia chegada ao Palácio Presidencial, uma equipa de técnicos da IGAE chefiada por um alto funcionário Tomás Gabriel Neto Joaquim, foi enviada, em Novembro de 2019, a capital portuguesa para inspeccionar a gestão do Consulado de Lisboa, do Porto, Embaixada de Angola  e da chancelaria militar. Os inspectores ficaram intrigados pelo facto de o consulado no Porto ter contratado também a GALACTITÁTICA que está sediada em Lisboa (Sintra - Rio de Mouro), para um contrato mensal de 9 mil euros.

 

“Se as câmaras deixarem de funcionar e os alarmes accionarem, o consulado do Porto teria de telefonar a empresa que está a 3 horas de distância, neste caso em Lisboa para os socorrer, foi isso que intrigou os inspectores e notaram que havia gato neste contrato”, revelou uma fonte que acompanha o assunto.

 

Na sequência das investigações, os inspectores da IGAE puderam apurar que a GALACTITÁTICA, UNIPESSOAL, LDA é uma empresa  constituída,  em Maio de 2011, em Lisboa, mas sem referência no mercado português. A sua contratação com estas instituições diplomáticas angolanas foi estabelecida por via de um cidadão português identificado por “Senhor Tomás”, próximo ao Vice-Cônsul em Lisboa, Mário Silva, recentemente exonerado.

 

Os inspectores da IGAE pesquisaram e verificaram  também que os preços cobrados aos dois consulados terão sido propositadamente sobre-facturados, uma vez que as empresas de montagem de câmaras e alarmes com aviso a polícia,  de referência em Portugal, cobram 40 euros por mês para instalação de alarmes em residências e 180 euros por mês para serviços similares em instituições como se pode verificar no site da empresa portuguesa SECURITAS.

 

“O consulado em Lisboa paga 12 mil euros  por mês a GALACTITÁTICA enquanto que para o mesmo serviço, as empresas de alarmes em Portugal cobram 180 euros, o que se pressupõe dizer que há aqui uma sobre-facturação de 11 820 euros”, conforme atesta a fonte.

 

Segundo apurou o Club-K, um outro detalhe que chamou atenção aos inspectores angolanos é a modalidade de pagamento efectuado pelos dois consulados. Ao invés de transferência bancaria, o consulado faz o pagamento com cheque, entregue em mão ao cidadão português identificado por “Senhor Tomás”. Assim e desta feita, evita-se rastreio por parte das finanças de Portugal, incentivando assim a fuga ao fisco. 

 

A GALACTITÁTICA, UNIPESSOAL, LDA,  não  tem página para pesquisa  na internet, e também não  consta na  lista das principais empresas de referencia de instalação de câmaras e alarmes  em Portugal. (clique aqui para ter acesso a lista

 

Ao serem interpelados pelas autoridades angolanas, os diplomatas angolanos  em Lisboa, implicaram o Secretário Geral do Ministério das Relações Exteriores, Agostinho de Carvalho dos Santos Van-Dúnem “Gugu”, como a entidade que autorizou os contratos,  não só com a GALACTITÁTICA mas  também com uma outra empresa portuguesa TECNOVIA - SOCIEDADE DE EMPREITADAS, S.A. que fez obras  de reparo (de cerca 500 mil euros) na “Casa Protocolar”, do Consulado Geral de Lisboa, situada na  Avenida das Descobertas, número 13, Restelo - Lisboa.

 

Esta semana,  o SG do MIREX, Agostinho Van-Dúnem manifestou intenção de apresentar o seu pedido de demissão do cargo ao que lhe-foi negado a pretexto de que precisavam  dele para o esclarecimento de dados do seu contraditório com relação ao relatório da inspecção da IGAE,  com relação a  gestão das missões diplomáticas de Angola em Portugal.