Luanda - O advogado Agostinho Pereira de Miranda considerou hoje à Lusa que o setor petrolífero em Angola está "muito bem preparado para sair da crise", mas está dependente de uma retoma da procura a nível mundial.

Fonte: Lusa

"O setor petrolífero angolano está mal, mas isso deve-se muito especificamente à queda dramática do preço do barril, mas está muito melhor preparado para recuperar, designadamente se vier a existir uma retoma da procura do petróleo por parte da economia mundial", disse o advogado e sócio fundador da sociedade de advogados Miranda e Associados.

 

Em entrevista à Lusa sobre a crise económica que Angola atravessa, o especialista em direito energético lembrou que "há dois anos o Governo tomou uma série de iniciativas que levaram a que se tivesse aumentado muito substancialmente o investimento no setor e, dessa forma, conseguiu-se não só estabilizar como aumentar a produção nos últimos meses".

 

A indústria petrolífera, acrescentou, "está melhor preparada para sair da crise, assim o ajude a situação financeira económica mundial".

 

Onde o panorama não é tão animador é na diversificação económica, sucessivamente declarada mas nem sempre concretizada por parte das autoridades angolanas.

 

"Obviamente que há um plano de diversificação da economia de Angola, mas uma parte desses planos existe há uma dúzia de anos e é lirismo acreditar que essa diversificação vai acontecer nos próximos dois ou três anos", afirmou Agostinho Pereira de Miranda.

 

A diversificação, a haver, vai centrar-se na exploração de diferentes recursos naturais, e não em áreas que são normalmente apontadas como naturais, como a indústria ou a construção civil.

 

"Ao nível das diferentes indústrias extrativas, é absolutamente natural que haja essa diversificação, particularmente com o aumento e a pesquisa de outros recursos minerais, e também acredito que há hipóteses muito interessantes nos setores ligados à indústria agroalimentar, que parece ter finalmente condições para avançar", frisou.

 

No entanto, o advogado de várias empresas petrolíferas que operam em Angola acrescentou: "Mas já não acredito tanto que vejamos nos próximos dois ou três anos uma alteração significativa nas indústrias transformadoras".

 

Onde há verdadeiramente boas notícias, apontou, é no setor do gás natural, que o advogado considerou ser importante para o desenvolvimento futuro da economia angolana.

 

"O gás natural é muito provavelmente uma das grandes alavancas para a diversificação não apenas do setor petrolífero, mas também do setor industrial angolano", salientou Agostinho Pereira de Miranda.

 

"Nos últimos dois anos têm sido feitos avanços muito significativas na frente do gás natural, o Governo aprovou uma série de incentivos para a pesquisa e produção de gás e, em consequência, estão previstas a construção, através de um novo consórcio, de mais uma unidade de liquefação de gás natural e, por outro lado, está a aumentar o número de projetos que utilizarão gás natural, designadamente para centrais de ciclo combinado", vincou.

 

Angola tem reservas "bastante interessantes para África, valendo talvez um décimo de Moçambique", o grande gigante nesta área na África Austral, concluiu Pereira de Miranda.

 

Para combater a pandemia provocada pelo novo coronavírus, os governos mandaram para casa 4,5 mil milhões de pessoas (mais de metade da população do planeta), paralisando setores inteiros da economia mundial, num "grande confinamento" que vários países já começaram a aliviar face à diminuição dos novos contágios.

 

O "grande confinamento" levou o Fundo Monetário Internacional (FMI) a fazer previsões sem precedentes nos seus quase 75 anos: a economia mundial poderá cair 3% em 2020, arrastada por uma contração de 5,9% nos Estados Unidos, de 7,5% na zona euro e de 5,2% no Japão.

 

A nível global, segundo um balanço da agência de notícias AFP, a pandemia de covid-19 já provocou mais de 313.500 mortos e infetou mais de 4,6 milhões de pessoas em 196 países e territórios.

 

Em África, há 2.735 mortos confirmados, com mais de 82.500 infetados em 54 países, segundo as estatísticas mais recentes sobre a pandemia no continente.

 

Angola regista até ao momento 48 infetados e dois mortos.

 

A doença é transmitida por um novo coronavírus detetado no final de dezembro, em Wuhan, uma cidade do centro da China.