Luanda - O MPLA, foi e é o Movimento/Partido que desde a independência de Angola, governa o destino do país e do seu povo. Tendo no início da independência como Presidente Agostinho Neto, (1975/1979) que, com a sua morte por doença, transferiu o poder para o Presidente José Eduardo dos Santos (1979/2017). Este perpetuou-se no poder por cerca de 38 anos consecutivos, retirando-se nas eleições gerais de 2017, altura em que a chefia do Estado passou para as mãos do Presidente João Lourenço.

Fonte: Club-k.net

Desde a independência de Angola, que as políticas do Partido/Estado (MPLA), perspectivaram e induziram o povo angolano na criação de um Estado absolutista com a ideia de que o Estado seria o gestor do “bem comum” e de todos os interesses inerentes a vida dos angolanos, que por sua vez concedeu-lhes um cheque em branco para gestão do Estado e dos seus interesses.

 

O pensamento absolutista de poder nesta organização política, remonta aos primórdios da história do MPLA, porque mesmo nos maquis este Movimento de Libertação Nacional, nunca e em nenhum momento, conseguiu harmonizar as suas contradições e contrariedades internas à nível da sua concepção ideológica e das estratégias políticas, plasmadas por muitos dos seus militantes que sempre manifestaram o descontentamento, principalmente dos intelectuais em relação a sua linha de orientação directiva.

 

Daí, surgirem suspeições de práticas de eliminação física, onde configuram-se as mortes de Deolinda Rodrigues, Comandante Hoji-Ya-Henda, Matias Miguéis, Comandante Virgílio Sottomayor, Comandante Monstro Imortal, entre outros e, concomitantemente, com as circunstâncias que derivaram o surgimento de correntes de afirmação que encontraram respaldo nos movimentos da Revolta Activa, Revolta do Leste e do 27 de Maio de 1977.


A prática de eliminação física dos adversários políticos remonta o tempo dos maquis, ou seja, ocorreu durante a luta de Libertação Nacional pela Independência, no início da Independência em 1975 e que continua, com contornos mais subtis, até aos dias de hoje, como se de uma marca registada se tratasse.

 

Na concepção das estratégias políticas que visam manter o poder absoluto ao longo da sua história, a Direcção do MPLA e os seus ideólogos definiram-se sempre no sentido de eliminar fisicamente e de ostracizar os seus militantes dotados de educação e de instrução, porque o que se observou no passado e depois no 27 de Maio de 1977 não se limitou apenas na eliminação física dos verdadeiros culpados rotulados de “fraccionistas”. Optaram por uma massiva carnificina generalizada em todo o país, onde aglomerados de jovens que na altura tinham como habilitações literárias entre os 5º e 7º anos dos Liceus, Estudantes Universitários e Licenciados, entre os quais os médicos, que foram as principais vítimas. Tendo maior incidência na juventude das Províncias de Luanda, Malange e Benguela.


Decorridos mais de 40 anos, a estratégia política do mal, vigente no MPLA/Estado, continua presente e a sobrepor-se aos direitos políticos, cívicos e humanos dos cidadãos angolanos. O exemplo desta ocorrência são os ex-guerrilheiros da 1ª Região Político Militar que continuam injustiçados, com a mesma patente desde a fundação do Exército. Muitos foram patenteados como militares oficiais, devido aos cargos de chefia nas ex-FAPLA’s, já recorreram as estruturas superiores do Partido, ao Presidente do Partido e ao Presidente da República, mas que continuam com os seus processos emperrados nos gabinetes do Secretário do MPLA para os Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria, General Pedro Neto, do Ministro de Estado e Chefe da Casa de Segurança, General Pedro Sebastião e do Chefe de Gabinete do PR, Edeltrudes Costa.

 

A brilhante e louvável iniciativa do Presidente João Lourenço em criar uma situação nova e evolucionista no Processo de Reconciliação Nacional no país, ao criar a Comissão para Implantação do Plano de Reconciliação em Memória das Vítimas dos Conflitos ocorridos no país no período entre 11 de Novembro de 1975 e 4 de Abril de 2002, pensamos nós que não vai surtir efeito, pelo facto desta Comissão encontrar-se confinada na missão de emitir e atribuir os Atestados de Óbitos a favor das famílias das vítimas dos massacres. O que se pretende neste processo de reconciliação para que seja credível, pela sua profundidade e complexidade, deve ter como pano de fundo, o levantar do véu dos crimes praticados, com isenção, responsabilidade e sem paixões para se chegar a um veredicto final que a Nação Angolana possa aceitar e respeitar.

 

Na busca de soluções torna-se imperioso que esteja na liderança da Comissão uma entidade credível, isenta, neutra e fora da estrutura do Estado, por exemplo, um Cardeal ou Bispo, à semelhança da “Comissão da Verdade” ocorrida na África do Sul, que poderia desenvolver a sua actividade sem receios de alcançar os objectivos preconizados.


Com este procedimento somos de opinião que se fizesse a exorcização de todos os espíritos malignos que ainda subsistem e pairam na alma dos angolanos, bem como, criar as condições objectivas e subjectivas para a implementação de uma nova ordem nas relações políticas e humanas em relação às partes envolvidas nos conflitos armados ocorridos no nosso país.

 

Toda esta engrenagem de mudanças na vida política do país, recordamos, que só foi possível graças ao recrudescimento da necessidade imperiosa de mudança que já se fazia sentir no país. Assim, em 2017, com a chegada ao poder do Presidente João Lourenço, primeiro pela longevidade do seu antecessor na chefia do Estado. Segundo, pela estratégia obsoleta de governação do Partido/Estado, em que foi mantida a linha de imposição da evolução galopante da corrupção, onde os governantes multiplicaram os seus poderes na praça pública, como Ministros, Empresários, Banqueiros e ainda outros como Generais de Gabinete. Concentrando deste modo, os seus poderes políticos e financeiros, excluindo por completo a sociedade angolana e os cidadãos de toda participação política, financeira e social no Estado, criando uma panóplia de controle ao ser humano e ao seu direito à vida.

 

A evolução da corrupção, tornou-se estrutural e sistémica, tal como a conhecemos hoje no nosso país. Evoluiu ao ponto de toda riqueza do país encontrar-se nas mãos dos governantes e dos seus familiares, que teve como principal resultado: a causa dos baixos resultados económicos e do fracasso da diversificação da economia, que ao invés de combater a pobreza extrema, fortaleceu a indigência e transformou-se no principal obstáculo da luta contra toda miséria submetida ao povo angolano.

 

O esforço do Presidente João Lourenço, em revigorar a sociedade de novas esperanças, com a sua mensagem teoricamente inovadora, de renovação, jovialidade e optimismo quando assumiu a vontade acérrima em combater a corrupção, o nepotismo e a impunidade, teve como resposta, o acentuar da crise económica, a flutuação da moeda cambial, o desencorajamento do investimento estrangeiro e por acréscimo o surgimento do Covid-19. Logo, a sua vontade de “corrigir o que está mal e melhorar o que está bem” esbateu-se e hoje não passa de uma miragem.

 

A faltar apenas um ano para um novo pleito eleitoral, o povo angolano está a vislumbrar como realidade de que o PR - JLO, foi ao pleito eleitoral apenas para chegar ao poder e por outro lado o MPLA transformou-se num Partido meramente eleitoralista, sem estratégia política para a construção do Estado e da Nação.

 

O MPLA é hoje uma organização sem sentido e sem rumo, ou seja, sem estratégias políticas, continua a ser um Partido de um grupo de famílias, de parentes e amigos com os mesmos bajuladores e marimbondos e num segundo plano de um Partido com gente egocêntrica e com total ausência de humanismo. Que só pensam neles próprios, sem se preocuparem com o resto da Nação Angolana. Logo, são eles os proprietários de tudo, ao ponto de apoderarem-se de forma obsessiva das nossas próprias almas. Este mal instalado no Partido e no seu Executivo, já fez com que muitos militantes e ex-guerrilheiros do MPLA espalhados por todo país, manifestassem laivos de algum arrependimento pela sua participação na luta de Libertação Nacional e no derrube do colonialismo português. Muitos desses militantes e ex-guerrilheiros já chegaram a triste conclusão, que libertaram o país para um bando de ladrões, corruptos e sanguessugas obsessivos que só pensam em manter o poder absoluto a todo custo, para matar, explorar e expropriar as riquezas do país em seu beneficio.

 

A Direcção do Partido e o seu Executivo, encontram-se totalmente distanciados e desfasados da consciência política do povo e a cada dia que passa, com os inúmeros escândalos de roubos e práticas de corrupção de Membros da Direcção do Partido e de ex-Membros de Direcção do Partido, os militantes do MPLA, já deixaram de se rever no Partido. As máximas utilizadas e apregoadas noutrora de que, “A revolução tem que ser defendida pelo Povo Angolano e em seu próprio benefício” e que “O MPLA é o Povo! e O Povo é o MPLA!”, tal como foi na era de Agostinho Neto e de Lúcio Lara, caiu em desuso e tornou-se obsoleto.

 

Em 1992, o MPLA/Partido evoluiu para um formato de Partido/Empresa, criou empresas, passou a comparticipar nos lucros do Estado, ao penetrar na indústria petrolífera, diamantífera, banca, comunicação social, etc., mergulhou na política de saque e de delapidação do país e incentivou a corrupção de colarinho branco, em larga escala.

 

Neste contexto, nasceu a GFI – Sociedade de Gestão e Participações Financeiras, o Grupo GEMA, a Orion, a LAC – Luanda Antena Comercial, o Banco Sol, o BCA – Banco Comercial Angolano, etc., e não se deixando pelo Partido, o tentáculo do polvo, aglutinou toda a economia do país, dando origem a bancos e empresas em benefício da família do ex-Presidente JES (que ficaram donos de tudo no país), incluindo a mana Marta e a antiga primeira dama Ana Paula dos Santos, Manuel Vicente, os generais Dino Nascimento e Kopelipa, Isaac dos Anjos, com o desvio de fundos na gestão do Fundo de Pensões, Manuel Rabelais com o Grecima, o génio matemático Álvaro Sobrinho, e de outros membros com cargos de direcção no Partido e no Executivo.

 

O elevado nível de corrupção no país fez com que se propagasse uma acentuada desigualdade social e sofisticou o processo de manipulação dos três poderes de Montesquieu, (Poder Executivo, Poder Legislativo e Poder Judicial). Não satisfeitos, os insaciáveis, absorveram de igual modo o chamado 4º Poder que é atribuído a Comunicação Social, que está hoje tutelada pelo Ministério das Telecomunicações e Tecnologias de Informação. Com este ardiloso e maquiavélico objectivo, elevou os índices de falta de liberdades políticas e de imprensa e submeteu a comunicação social a um mero dispositivo técnico e vigiado.

 

Com esta mudança na comunicação social, compreende-se o tipo de profissionais empossados para a constituição dos Conselhos de Administração dos Órgãos Públicos. Os mesmos funcionam com base na propaganda política, manipulação e com uma total ausência de conteúdos comunicacionais e de profissionalismo. A comunicação social pública que deveria ser o principal pilar de mediação entre o serviço público de difusão, a comunicação de massa e a construção social da realidade é totalmente escamoteada. Logo a sua obrigação em contribuir no aumento do nível de literacia do país, com projectos e programas educativos, de saúde e agora mais do que nunca com a agravante do surgimento da Covid-19.

 

O combate a Covid-19 em Angola está remetido a Ministra da Saúde e aos técnicos de saúde, em comunicados e conferências de imprensa, ao invés dos media participarem activamente no combate a pandemia, na promoção e na educação de saúde pública, no desenvolvimento e na potenciação económica do país, com programas ligados a agricultura, indústria, comércio e ao empresariado.

 

Por outro lado, deveria potenciar projectos e programas de entretenimento nacional direcionados ao grande público, com programas e projectos juvenis, de ficção (telenovelas, talkshows e spots publicitários).

 

Pelo contrário, a estratégia apresentada na comunicação social pública, não passa de um ciclo de engrenagem/esquema que tem como finalidade última, a acomodação do seu sistema político, com lavagem cerebral ao povo, com excesso de propaganda política, hoje, fora de contexto e com a pretensão de criar a domesticação colectiva de toda Nação Angolana.

 

Com esta acção, o MPLA/Estado com as suas práticas não tem outra saída senão utilizar as mesmas estratégias do marimbondismo que teoricamente condena. Na prática e para a sua consolação não se coíbe em promover jovens e militantes intelectualmente desonestos, casos de advogados, economistas e sociólogos, muitos deles donos e com cotas em empresas e de luxuosos escritórios de advogados, entre outros negócios obscuros, sequiosos de poder e de enriquecimento fácil como actores políticos, potenciando a cultura da bajulação onde destacam-se como principais figurantes, Norberto Garcia, Luvualu de Carvalho, João Pinto, Gildo Matias José, Belarmino Van-Dúnem, sem conhecimento profundo da História do MPLA, que funcionam apenas como papagaios, bocas/contratadas e de aluguer para efeitos de propaganda política como acontecia no programa radiofónico da Emissora Oficial, “A Voz de Angola” do tempo colonial.

 

O caso mais recente vem de um jovem feito Ministro da Administração do Território, Marcy Lopes, teve a ousadia e a arrogância de enunciar para o país o seguinte: “vamos fazer um bom trabalho para o povo, de forma competente, pois que o tempo actual exige excelência e qualidade. Quem estiver cansado pode sair, o mesmo deve acontecer com quem estiver disposto, mas não atrapalhar e prejudicar quem trabalhar”.

 

Este tipo de abordagem e por quem à enunciou, dirigida “O Povo Heróico e Generoso de Angola” obriga-nos a questionar o seguinte:

 

1 – Será que o Ministro do Território, Marcy Lopes, tem a noção de quanto “A Luta de Libertação Nacional pela Independência contra o colonialismo português” e com a “Guerra Civil entre os Movimentos de Libertação”, que terminou a 4 de Abril de 2002, custou ao país em termos de vidas humanas?

 

2 – Será que o Sr. Ministro do Território, Marcy Lopes, tem conhecimento e consciência do tipo de vida que foi submetida ao “Povo Angolano” desde a Independência em 1975 até aos dias de hoje, que vai desde o “Partido Único até as Eleições Multipartidárias de 1992”, sem qualquer desenvoltura na Educação, Saúde e na qualidade de vida do povo angolano, perpetuada até a presente data?

 

3 – Será que o Sr. Ministro do Território, Marcy Lopes, tem consciência e conhecimento de “Quem empobreceu o País de 1992 a 2020, deixando “O Povo de Angola” sem qualquer dignidade, apesar da sua riqueza e da sua escassa densidade populacional?

 

É do domínio público que o Jovem Ministro do Território, Marcy Lopes é genro de Rui Ferreira, ex – Juíz – Presidente do Tribunal Supremo e do Conselho Superior da Magistratura Judicial e goza da simpatia do Chefe de Gabinete do Presidente da República, Edeltrudes Costa.

 

Será que o MPLA/Estado, ao nomear este tipo de indivíduos, arrogantes e pouco humildes, para cargos públicos os transforma em cidadãos de primeira, patriotas genuínos, gestores de excelência e sobredotados independentemente da sua história política?

 

Com este tipo de nomeações fica bem espelhado que a teoria do combate ao nepotismo fica aquém da sua prática.

 

Assim, Angola, verá o Princípio do fim de um Partido que um Dia foi Amado pelo Povo.

António Alberto Alcochete

Luanda, 4 Julho de 2020