Luanda – Na verdade, o que se pretende, é partilhar “sob forma de alerta”, alguma reflexão sobre possíveis formas de agir ou de proceder das pessoas na sua Interacção com Outros em situações de falta de Emprego, no Contexto de crise económica que vive-se, caracterizado igualmente por medidas sanitárias de prevenção e ao mesmo tempo por despesas públicas “não antes previstas”, no caso do Estado. E sobretudo defender-se a ideia, – como acima referimos –, “sob forma de alerta” à sociedade ou aos Indivíduos de que a falta de Emprego não deve constituir razão suficiente para levar-nos à tomar comportamentos de ordem criminosa “em relação à outrem”, ou cometer o suicídio.

Fonte: Club-k.net

No entanto, nos últimos meses, tem sido muito recorrente na nossa sociedade, observar- se casos de violências ou crimes cometidos por indivíduos que, “quando questionados”, recorrem à vários argumentos, entre os quais, de que “cometi por causa da falta de Emprego”. Sobretudo, indivíduos Jovens. Entre esses crimes temos a delinquência e a violação de várias ordens, incluindo àquelas de âmbito doméstico.


Neste sentido, tendo em conta o contexto de crise económica em que vivemos, ouvindo de que “uma das causas do cometimento do crime é a falta de Emprego”, fica-nos facilmente perceptível de que a causa do cometimento do crime, é realmente o Desemprego. Mas pode não ser. Pois, as causas de comportamentos criminosos por parte de indivíduos em situação de Desemprego podem ser muito variadas.


Todavia, ainda chama-nos muito mais atenção àqueles comportamentos que levam os próprios indivíduos a tirarem as suas próprias vidas, praticando assim, “o suicídio”.
Por isso, nos questionamos: o que leva realmente um indivíduo a suicidar-se? A falta de Trabalho é realmente suficiente para cometer-se o suicídio?


Evidentemente, em nossa perspectiva, a falta de Trabalho, não constitui razão suficiente para cometer-se o suicídio. Deve haver outras causas.


Porquanto, o fenómeno do suicídio é de grande complexidade, por que refere-se directamente à pessoa, enquanto ser, com suas próprias características. Isto é, com seu carácter e temperamento, mas ao mesmo tempo, com seu estado gregário, mantendo relações sociais, ou influências recíprocas com o espaço, ou o contexto em que vive.


É verdade que a falta de Emprego ou de Trabalho, constitui uma preocupação para qualquer sociedade. Por isso, a sociedade angolana, não está isenta desta preocupação. Pois, – como em outras ocasiões afirmávamos – o Trabalho está no centro das grandes actividades da vida em Sociedade, e consequentemente no centro da Relação Social, independentemente da Categoria Socioprofissional, da Idade, do Sexo e do Traço Cultural do indivíduo.


Entretanto, sua privação ou falta, – isto é, do Trabalho – para quem a sofre, pode constituir em primeiro lugar, uma diminuição ou mesmo ausência de meios ou recursos que lhe permitam planificar e viver a sua vida de uma forma equilibrada em Sociedade.


Contudo, na perspectiva “Durkheimiana”, o suicídio pode ser caracterizado como sendo uma patologia social que traduz uma desorganização ou um desregulamento no seio de uma sociedade em particular, de um grupo, etc. E a nível da Psicologia, o “suicídio”
pode ser entendido como sendo uma patologia psicológica relacionada com algum disfuncionamento que afecta o estado psíquico do indivíduo.


Porém, em nossa perspectiva, esta verdade, “não pode justificar a adopção de comportamentos desviantes, ou de tragédia a si mesmo – obviamente – por parte de indivíduos, por mais que a realidade seja dura, frustrante ou de muito sofrimento”, pelas seguintes Evidências:


I. Apesar do contexto de crise económica actual, afectando directamente as actividades empresariais de produção, distribuição, e consequentemente a vida das nossas famílias, através por exemplo de despedimentos – ainda assim –, não constitui razão suficiente para que um indivíduo retire a sua própria vida;


II. O sofrimento que o suicídio traz para as famílias, é bem maior em relação a presença do mesmo parente Desempregado;


III. A tragédia do suicídio é também um dano que afecta não só directamente as famílias, mas igualmente ao Estado;


IV.As nossas Comunidades e o país de uma forma geral, “ganha mais”, tendo indivíduos praticando o voluntariado, mesmo em situações muitas vezes difíceis, do que tendo maior frequência de práticas de suicídio de seus cidadãos;


V. Uma das formas de sentirmo-nos úteis aos outros ou à sociedade, é pertencendo à “grupos associativos”, religiosos, ONGs, etc., e “não praticando o suicídio”;


VI.Através da sociologia da religião, aprendemos e somos instruídos doutrinariamente de que o suicídio é um pecado grave para Deus, e afecta negativamente o momento “pós vida na terra”;


VII. No processo de procura de emprego, “ou de outra ocupação” uns são mais guerreiros que os outros, uns são mais preocupados que os outros, uns são mais sonhadores do que os outros. Mas, “mais vale ser sonhador do que suicidar-se”, seja no espaço rural ou urbano;


VIII. Os Indivíduos, no decurso de suas vidas, vão conhecendo realidades e experiências que marcam-lhes de forma individual, tocando-os, intimamente. E muitas vezes, essas realidades e experiências, são relacionadas com a falta de satisfação de suas necessidades biológicas, com a falta de independência pessoal, e com a ausência de um estatuto social e da protecção pessoal e familiar, e não só. Mas, essas carências não podem justificar a prática de suicídio;


IX.Não obstante, os níveis de preocupações de se obter emprego, serem generalizados por parte de indivíduos nestes dias de crise económica e de pandemia da Covid-19, ainda assim, há quem consegue obter algum emprego ou ocupação e outros, não. Mas, mesmo para os Indivíduos que assumem uma certa responsabilidade social ou familiar, e que não conseguem obter emprego ou alguma ocupação, não podem deixar-se levar à frustração, até ao ponto de tirar a vida dos outros e a sua;


X. É certo que vivemos uma época de crise económica e de pandemia da Covid-19, onde as variáveis económicas são constantemente alteradas para o sentido negativo, fazendo crescer os níveis de riscos na produção, na importação, e consequentemente na distribuição, no consumo e na aquisição de receitas para fazer funcionar as políticas públicas – de modo eficiente –, que têm por fim, o desenvolvimento social. Mas o impacto social dessa realidade não pode levar o Indivíduo a tomar decisão de suicidar-se.


Possivelmente, seria muito mais pertinente, abordar este assunto com base à uma medição feita dos comportamentos e percepções das pessoas, através de uma observação directa ou de um inquérito de forma sistematizada, a fim de precisarmos por exemplo a percentagem da faixa etária, a categoria socioprofissional, o sexo e o traço cultural de indivíduos que tendem a praticar o “suicídio”, ou “outros crimes”, e entender por quê.


Portanto, é mais uma tentativa de deixar-se aqui, uma singela contribuição no debate sobre a compreensão da prática de fenómenos como o “Suicídio e não só”, relacionando-o com um outro fenómeno que chama-se “Desemprego,” tendo em conta o Contexto de Crise Económica – que vivemos – agravada pela pandemia da Covid-19, em que a divisa fundamental é “ficar em casa” a fim de evitar-se possíveis contágios do SARS-CoV-2 entre os indivíduos, apesar do desconfinamento que vamos tendo.

Paz e Bem*