Luanda - A incerteza é uma incógnita, uma hesitação ou uma perplexidade. A incerteza, no sentido lacónico, é um estado de espirito caracterizado pela dúvida e pela indecisão sobre uma situação possível mas que ainda não se sabe bem se de facto vai ocorrer e cuja resolução é imprevisível. Noutras palavras, a incerteza é um paradoxo ou o cepticismo o qual, por curiosidade, busca a objectividade e recusa em aceitar algo sem um exame critico.


Fonte: Club-k.net


Há coisas que acontecem na nossa sociedade angolana que desafiam a lógica e o senso comum, de forma persistente e resoluta incute a inverdade na consciência da opinião pública. O desaparecimento misterioso de mais de 32 Mil Milhões de Dólares Norte Americanos das Contas Públicas do Estado Angolano está sendo alvo de repúdios veementes e de desmentidos por parte do Executivo Angolano. Contudo, numa certa altura o Fundo Monetário Internacional (FMI), através do seu alto funcionário, numa conferência de imprensa em Luanda, afirmara o seguinte:

 

“A maior parte das despesas com as obras da reconstrução nacional não constam do Orçamento Geral do Estado (OGE); isso torna-se difícil saber e determinar o valor exacto da verba alocada, bem como estabelecer a fiscalização efectiva e a prestação real de contas. Estas condições são imprescindíveis para uma gestão transparente.” 

 

Quanto a mim, esta afirmação do FMI é muito mais grave que o alegado desaparecimento misterioso de 32 Mil Milhões de Dólares do Cofre do Estado Angolano entre 2007 e 2010. Se olharmos bem, pela grandeza e extensão de Obras executadas, em todo país, neste período, nos leva a concluir que o volume das despesas com estas obras é muito mais elevado que o valor em causa.

 

A agravante desta problemática consiste no facto dessas obras, em referência, estarem sob jurisdição exclusiva do Gabinete do Presidente da República. De modo indirecto, isso imputa toda responsabilidade, das irregularidades registradas, ao Soberano Angolano que neste momento se encontra numa situação menos confortável. Pois que, até esta data o Ministério Público não tem sido capaz de sair a terreiro esclarecer o Dossier apresentado pelo Dr. David Mendes, das Mãos Livres, sobre as Contas chorudas, nos Bancos Estrangeiros, do Presidente da Republica e de outros dignatários da sua Corte.


Acima disso, ostenta-se visivelmente uma fortuna fabulosa da família real cujo modo de aquisição e de gestão não transpira credibilidade e transparência exigida. Neste respeito, há indícios fortes da presença de um Cartel que exerce o monopólio absoluto sobre o mercado angolano. Isso desfaz o princípio da concorrência leal e da igualdade de oportunidades para todos os cidadãos.

 

Infelizmente, uma situação deste género não abona a imagem de Angola, muito menos do Presidente da República. Portanto, esta barulheira em volta deste assunto, dos valores desviados, não ajuda de modo nenhum branquear a imagem do estadista angolano. Pelo contrário, aumenta dúvidas sobre o silêncio mortal da Procuradoria-Geral da República referente às queixas introduzidas neste Ministério, dentro e fora do país, que continuam sem respostas nenhumas.

 

As afirmações do FMI, embora não constituam novidades, revelam o tamanho incalculável das irregularidades e o volume avultado do dinheiro que desaparecem diariamente do Cofre do Estado na execução do Programa em curso da Reconstrução Nacional. Se não, vejamos! A maior parte das obras estão adjudicadas às empresas das mesmas personalidades, as quais controlam o OGE; traçam e aprovam os projectos; alocam e adjudicam as verbas; executam e fiscalizam os empreendimentos. É um esquema bem fechado, estruturado do mesmo modo das sociedades secretas que não deixam o mínimo espaço de transparência.


Além disso, este sistema de caracter monopolista não dá acesso nenhum aos conteúdos e a natureza dos contractos; não oferece concursos transparentes; não espelha o valor real das obras; nem garante a qualidade; dá azo a sobre facturação e as comissões arbitrárias; viabiliza a existência de mão-de-obra barata e de seguros sociais precários; fuga ao fisco; tráfico de influências e nepotismo; arbitrariedade, etc. Este tipo do regime político e económica contrária, de todas formas, os princípios fundamentais da Boa Governação. Creio que, esta situação faz parte de uma gama de factores que têm estado na origem da cedência incondicional dos mercados africanos à China.

 

Visto que, a Boa Governação não faz parte dos requisitos que regulam os investimentos chineses na comunidade internacional. De modo estranho, a China tem uma política interna austera de combate cerrado à corrupção. Em certos casos, ela aplica a “pena de morte” aos crimes do peculato, o que constitui um verdadeiro paradoxo.

 

Logo, este comportamento de “deixa andar” faz-nos crer que esta Potencia Asiática, não só encoraja a desgovernação de outros países, mas também está de certo modo em conluio. Isso, em sim, revela já as características do Poder Imperial que somente se preocupa com o bem-estar de si próprio em detrimento de outros Povos do Mundo. Isso não se difere muito da Doutrina do Neoliberalismo que se prática extensamente nas democracias conservadoras do Ocidente.


Por outro lado, essa maneira de agir contraria diametralmente os Conceitos modernos da Democracia Socialista, que a China tanto defende internamente. Em contraste ao Capitalismo, o Socialismo Democrático baseia-se na dignidade humana, na solidariedade social, na repartição equitativa da renda nacional, na responsabilidade colectiva, e na defesa escrupulosa das camadas vulneráveis e desfavorecidas da nossa Planeta.


A China defende a política de laissez-faire como forma de salvaguardar o princípio de “não interferência nos assuntos internos de outros estados soberanos”. Na realidade isso é uma forma de escamotear os desígnios estratégicos, dentre os quais: a) Acesso às regiões estratégicas, ricas em recursos minerais; b) aquisição de novas tecnologias e know-how dos países industrializados; c) pacificação, isolamento e expansão; d) conquista de amizades e de aliados; d) estabelecimento de colónias chinesas; e) domínio do mercado internacional.
Esta estratégia é de longo prazo e se fundamenta nas lições tiradas da Guerra-fria em que a União Soviética reconheceu o fracasso humilhante por não ter tido recursos suficientes e estruturas adequadas para que pudesse sustentar o esmagador peso económico e tecnológico dos Estados Unidos da América. O que redundou no desmoronamento espectacular do maior Império da Era contemporânea.

 

Pois, no decurso da Guerra-fria a China tivera adoptado a política de Não-Alinhamento e de Não-Hostilidade Activa contra nenhum dos dois Blocos em conflito. Sob esta estratégia de “Neutralidade Activa”ela beneficiou da “Guerra-de-Desgaste”para desenvolver novas capacidades para o seu povo, através da reabilitação das estruturas económicas devastadas pela guerra prolongada que apenas terminou em 1949, com a entrada triunfal do Exército Vermelho em Pequim. Isso serviu de mola impulsionadora do processo da modernização e da arrecadação de recursos financeiros avultados.

 

No fim de contas, esta estratégia busca conquistar a supremacia mundial e o seu desenrolamento será feito num clima de abertura, de rapprochement, de convivência e coexistência pacífica; de tolerância e flexibilidade; de estreitamento de laços de amizade e de cooperação bilateral e multilateral a nível mundial; de investimentos maciços nas economias emergentes e em desenvolvimentos; na abertura mitigada às democracias ocidentais; no alargamento da cooperação nos domínios da ciência, da tecnologia, do intercâmbio comercial e know-how. Internamente haverá reformas bem planificadas e controladas para se adequar aos factores da globalização e salvaguardar a “transição suave” à Nova Ordem Mundial.

 

Embora este constitui o Menu delicioso da Chinesa, todavia o Mundo contemporâneo, caracterizado pela alta competição e pela aspiração profunda às transformações constantes e às mudanças qualitativas, será inevitável que suceda mutações inesperadas deste quadro preestabelecido. Por exemplo, pouco se espera da “Primavera Árabe” na sequência da Crise económico-financeira que se aprofunda e que alterou significativamente o Mundo e a Ordem interna de cada País.


A perspectiva actual chinesa induz muitos dirigentes africanos a fazer leituras abstractas da natureza real do Gigante Asiático. Pois que, os anais da História humana revelam que, num determinado estágio evolutivo das potências, sempre alcançará a “fase do imperialismo”. Reflectido na “expansão”, através de aquisição territorial ou do domínio económico, tecnológico, cientifico, politico, cultural e social sobre outros Estados.


Para este efeito, as alianças estratégicas desempenham o papel decisivo na conquista da supremacia mundial. A China precisa dos países em via de desenvolvimento que sirvam de ponte às economias emergentes, sustentadoras do processo da edificação da Nova Ordem politica e económica internacional. Africa é o espaço de futuro sobre a qual incidirá a contenda das potencias mundiais.


Nesta questão específica, a explosão demográfica e a sobrepopulação constituem uns dos maiores desafios da China, neste século.O Dragão Chinês será tentado e obrigado pelos factores internos e externos tirar a maior vantagem da crise mundial, que atinge fortemente o Ocidente, com fim de estabelecer, de modo silencioso, as colónias em Africa e noutras regiões do mundo.


No caso de Angola, os imigrantes chineses já se encontram em todos cantos do território – nos subúrbios, nas comunas e nas aldeolas remotas, até nas florestas de Maiombe. Persistentes e gradualmente conquistam passo a passo pequenos, médios e grandes Negócios – até a Zunga. Bloqueando e afastando os Angolanos dos postos de trabalho. Ocupando extensões grandes de terras em áreas vantajosas. Cresce, assim, o poderio chinês no País.


Por isso, custa-me acreditar na Escola de Pensamento,da qual:“O único perigo sobre o futuro de Angola são as Potências Ocidentais, sobretudo os Estados Unidos da América.”Interroga-se, quantos Americanos que já ousaram viver nos subúrbios de Luanda ou nas aldeotas remotas do Campo? Pode imaginar presenciar um Cidadão Americano a fazer o Comércio ambulante (em baixo do sol ardente e a pé) nos musseques e nas praças informais dos centros urbanos do País? Porquê o imigrante chinês abraça livremente este sacrifício tão doloroso?


Em 1961, durante a fome da época, contemplando um mapa-múndi, MaoTsé- tung disse ao seu círculo mais próximo: “Temos de controlar a Terra.”


Então, não estará aí qualquer coisa anómala, fora do senso comum, que nos vai induzir no erro, como tem sido habitual ao longo da nossa História, desde 1975?


Conecta: http://baolinangua.blogspot.com
Luanda, 26 de Janeiro de 2012